Estudo revela que apenas 9,5% dos jornalistas dos grandes veículos são negros

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Ao todo, 1200 jornalistas foram entrevistados pelo grupo de estudos

O estudo Raça, gênero e imprensa: quem escreve nos principais jornais do Brasil? produzido pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), núcleo de pesquisas ligado à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), revela que apenas 9,5% dos jornalistas dos três maiores jornais do país: O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo são negros.

O levantamento foi realizado com 1200 jornalistas, em uma amostra aleatória das edições impressas publicadas na primeira metade do ano de 2021. O resultado é que 84,4% das pessoas que assinaram os textos são brancas. O segundo grupo mais numeroso no jornalismo brasileiro, segundo o estudo do GEMAA são os pardos (6,1%), seguidos dos pretos (3,4%), amarelos (1,8%) e indígenas (0,1%).

Foto: Freepik

Os resultados se tornam ainda mais impactantes quando analisadas as equipes individuais de cada redação. O Estadão, jornal com resultados mais desiguais, conta com uma equipe 88,7% branca, 6,1% negra (4,9% parda, 1,2% preta), 0,7% amarela e os 4,5% restantes não foram identificados.

Já a Folha de S.Paulo apresenta um pequeno aumento em termos de diversidade, com 84,1% de profissionais brancos, 10,6% negros (5,4% pardos, 5,2% pretos), 2,5% amarelos e 2,8% não identificados.

Por fim, O Globo, jornal que obteve o melhor resultado da pesquisa, mas que ainda está longe de apresentar um cenário ideal em termos de inclusão e valorização da diversidade tem 79% da equipe branca, 12,2% negra (8,9% parda, 3,3% preta), 2,3% amarela e 0,3 indígena com 6,2% não identificada.

Desigualdade de gêneros

O grupo de estudos também realizou um levantamento sobre a desigualdade de gêneros nas redações dos três veículos e chegou a uma média de 60% de profissionais homens. No Estadão 35,7% da equipe é formada por mulheres e no Globo, 36,1%. Já Folha mulheres formam 38% das equipes.

Quando se trata da interseccionalidade ao analisar a inclusão de mulheres trans, nenhum dos três jornais conta com representação transgênero fixa em suas redações. No período pesquisado, apenas uma autora trans contribuiu com um artigo a convite da Folha de S. Paulo.

João Feres Júnior, coordenador do GEMAA, reforça que a solução para essa desigualdade racial e de gênero nos grandes jornais é a adoção de ações afirmativas que são um caminho para alcançar mais igualdade e justiça social. “O ideal é a criação de uma política de inclusão com metas, ou que estabeleça cotas como fixar que, em cinco anos, tenhamos 20% ou 30% de negros e mulheres nas redações”, afirma.

A questão do etarismo também encontra espaço no jornalismo brasileiro. Segundo o estudo, profissionais acima de 50 anos são poucos, principalmente se forem negros. Na amostra, entre pessoas brancas, 36% têm mais de 50 anos, enquanto entre as negras esse percentual é de apenas 15%.

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A disparidade também é observada nas faixas etárias de homens e mulheres, com 40% dos homens acima de 50 anos, em comparação a apenas 23% das mulheres.

“Essa sub-representação de pretos e pardos nos grandes jornais confirma um grave problema de ordem cultural, social e política que parece não ter sido combatido por medidas de inclusão e diversidade nas redações”, finaliza João Feres.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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