A recém-formada em História pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Ana Victoria Rocha, denunciou por meio de um vídeo em suas redes sociais, ter sido vítima de racismo dentro do Restaurante Universitário (RU), no campus de Teresina. Após o impacto do caso, a aluna relatou que vem recebendo diversos comentários racistas em posts do Instagram que relatam o ocorrido, como: “Por causa desse cabelo” e “Coitado de quem sentar atrás dela nas aulas”.
No vídeo gravado, a vítima relata o caso: “Eu estava almoçando, e aí um homem branco me pergunta de qual tribo eu faço parte e se eu uso piercings no rosto por uma questão de identitarismo ou se é porque eu faço parte de alguma tribo”.
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Ana ainda relata que o homem, que se identificou como professor e membro do departamento de Economia da UFPI, continuou a fazer comentários desconfortáveis. No entanto, embora seja funcionário da universidade, foi confirmado que ele não faz parte do quadro de docentes desse departamento. “Logo depois ele veio falar várias coisas comigo, falando que a pessoa precisa ter postura, que a pessoa precisa ter aparência, uma série de comentários que eu sei que são comentários racistas, são comentários pra dizer que o meu lugar não é o lugar da universidade, que eu nesse espaço sou estranha, que eu sou colocada nesse lugar de diferente”, relembra.
Além disso, a graduada em História conta que o funcionário declarou que suas perguntas eram apenas pesquisas e que não eram uma forma de preconceito. “A gente que é da pesquisa entende que existe toda uma questão ética, existe todo um processo metodológico pra você chegar e falar com alguém, mas isso não foi feito comigo, o que foi feito comigo foi um confronto, ele não chegou no intuito de pesquisa, ele chegou no intuito de me deixar desconfortável e de querer afirmar que a universidade não é meu lugar por conta da minha aparência”, destaca Ana Victoria.
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A estudante expõe a sua indignação diante do ocorrido: “Ele não chegou dizendo ‘Oi, tudo bem?’, ele só disse: ‘De qual tribo você faz parte?’, esse comentário eu acho que é um racismo tão explícito, não dá nem pra falar que é um racismo escancarado, mas é um racismo muito explícito”.
Apesar da situação, Ana Victoria expressou em entrevista ao Notícia Preta que não se sentiu afetada, porque se conhece e reconhece o seu valor. “Acho que o sentimento se refere mais a pensar que é um funcionário público, uma pessoa que está lá para atender os alunos, e que muitas vezes usa desse espaço (que deveria acolher os alunos) para importunar”.
É importante destacar que injúria racial é crime. A Lei 14.532, em vigor desde 2023, tipifica a injúria racial como crime de racismo, com a pena aumentada de um a três anos para de dois a cinco anos de reclusão. A jovem revelou que já registrou um Boletim de Ocorrência e aguarda providências.
Posição da Universidade
Em nota publicada no dia 29, a UFPI afirma que é contra qualquer ato de racismo ou discriminação e que está disposta a investigar o caso e dar apoio à vítima. Confira a nota:
A Universidade Federal do Piauí (UFPI) repudia veementemente todo e qualquer ato de racismo e discriminação. Estamos comprometidos em criar um ambiente acadêmico seguro e inclusivo para todas as pessoas, independentemente de sua raça, gênero, orientação sexual, religião ou qualquer outra característica.
Diante do relato de racismo sofrido por uma aluna, queremos garantir que vamos tomar todas as providências necessárias para investigar o caso e apoiar a vítima. Trabalharemos para identificar e responsabilizar os responsáveis, e continuaremos a promover ações de sensibilização e prevenção ao racismo e à discriminação.
A UFPI é um espaço de ensino, pesquisa e extensão que valoriza a diversidade e a equidade, e estamos comprometidos em garantir que todas as pessoas se sintam bem-vindas, respeitadas e valorizadas em nossos campi. Estamos aqui para ouvir, apoiar e lutar por uma sociedade mais justa e igualitária para todas as pessoas.
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