“Estou dando chá para meus filhos”, afirma pai sobre preço do leite

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O litro de leite chega a R$ 9 em algumas capitais, provocando o efeito de substituição do produto

Caiu pela metade o consumo de leite na casa do técnico administrativo Vanderlei Silva, 41 anos. Ele explica que, desde março, tem adotado outra postura. Antes, o normal era consumir seis litros de leite por semana, mas, atualmente, entre dois a três litros no mesmo período. “Eu tenho duas crianças em casa e eles não tomam café. estou servindo chás, o mais frequente é o mate”, explica. 

Vanderlei Silva substitui o leite pelo chá para os filhos – Foto: Arquivo pessoal

Um levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese) revela que o litro de leite UHT acumula alta de 23,09% em Belo Horizonte (MG), nos últimos três meses, um dos mais elevados do país, chegando a uma média de R$ 7,09 por litro. Já no caso da manteiga, um dos principais derivados do leite, o maior aumento foi em Campo Grande (MS), com alta de  5,69%.

Em 12 meses, todas as cidades apresentaram acréscimo de preço nos dois produtos. Para o leite UHT, as maiores variações acumuladas foram registradas em Belo Horizonte (48,89%), Florianópolis (46,70%) e Porto Alegre (44,55%).

Marcelle Chagas, jornalista, conta que a frequência de consumo é diária, mas se viu obrigada a reduzir por conta do preço e da condição de saúde do filho. “Agora é um litro de leite por semana, por conta do valor e também porque meu filho está com uma alergia. Então, o leite acelera o processo de inflamação. Meu marido foi fazer a compra de leite em pó sem lactose e também está com o preço altíssimo. O que já era caro, está mais caro ainda”, afirma. 

O site de pesquisas Mercado Mineiro registrou variações entre R$ 63% e R$ 76% de algumas marcas de leite em comparação com março. Por sua vez, o queijo (Minas e mussarela) teve reajustes entre 19,45% e 53,49% no mesmo período. O queijo Minas mais caro custa R$ 79,90 em supermercados onde a pesquisa foi realizada. Nas periferias, porém, o produto tem novo reajuste, com valores que chegam a R$ 90 ou até R$ 100 por quilo. O leite em pó teve aumentos entre 22,42% e 48,02% nos últimos três meses, dependendo da marca.

“Pelo que temos informação do mercado, o custo de produção tem sido maior. O período seco já é desafiador e, tradicionalmente, o preço do leite já tem elevação. Encontrávamos o litro a R$ 2,99 ou R$ 3,99 e passar para R$ 4,99 já era um escândalo para o consumidor. Mas o mundo mudou completamente, em virtude da elevação do custo para alimentar o gado. O diesel, os insumos do campo e a energia elétrica contribuíram para essa elevação”, analisa o economista Feliciano Abreu, coordenador do Mercado Mineiro.

Em Belo Horizonte, o litro de leite passa dos R$ 7 – Foto: Denise Siuves

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Vanderlei, que é pai de duas crianças, de 7 e 10 anos, acredita que após as eleições o preço deve cair e questiona o preço da produção. “Esse aumento não é só custo de produção e estiagem. Já ouvi vários relatos de produtores de leite que não tiveram aumento significativo no valor por litro fornecido aos laticínios. Houve aumento no custo do transporte mas, não ao ponto de quase triplicar o preço desse item tão importante em casas com crianças”, conclui. 

“O produtor e o consumidor são os mais ‘fracos’ na cadeia. O produtor fica desanimado, recebe pouco e com custo alto. Do outro lado, o consumidor não tem condição de comprar o leite que nem é aquele que o produtor vende. Nesse período, algumas cooperativas notam a falta de oferta do leite e focam apenas nos derivados, porque o valor agregado é maior. Elas ganham mais num queijo ou numa manteiga do que vender o leite avulso”, explica Feliciano Abreu. 

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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