Estética decolonial: acesso à cuidados com a pele negra é mais restrito devido à falta de especialização, revela estudo

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Foto: Divulgação

Frente à exclusão do mercado, Jéssica Magalhães impulsiona há dez anos o fenômeno de tratamentos estéticos em pele preta no Brasil, endossado por personalidades como Tarsila Alvarindo, Val Benvindo e Najara (NBlack).

Segundo o último relatório “Forces of Beauty”, publicado pela DREAM (Driving Racial Equity in Aesthetic Medicine), cerca de 1 em cada 4 mulheres negras, latinas e multirraciais reconhecem os padrões de beleza da sociedade como racistas.

Além do agravante racial, a relação feminina com a estética também exerce forte influência no bem-estar delas. De acordo com a DREAM, aproximadamente 96% das entrevistadas afirmam que a autopercepção da beleza influencia diretamente na forma como se sentem. Esse desafio é ainda maior entre mulheres negras, que muitas vezes não se veem representadas em campanhas publicitárias ou não encontram tratamentos estéticos específicos para a pele preta. 

Foto: Divulgação

“Forces of Beauty” ainda mostra que, no caso de mulheres negras, o acesso aos tratamentos estéticos é mais restrito devido à falta de especialização e treinamento adequado de profissionais da saúde com a pele preta. No Brasil, apesar da escassez de consultórios que atendem as especificidades da derme, ainda há profissionais que se posicionam à frente da ‘estética decolonial’. Esse é o caso de Jéssica Magalhãesespecialista em pele preta há dez anos, com uma trajetória de sucesso na capital baiana. 

“Oferecer um atendimento estético inclusivo para pessoas negras é unir conhecimento técnico, sensibilidade e respeito à história e às especificidades da pele negra. Isso significa escolher ativos, tecnologias e técnicas que evitem riscos de hiperpigmentação e irritação, adaptar protocolos para cada paciente e, principalmente, ouvir suas dores, incômodos e expectativas. Inclusão não é apenas abrir a porta para receber pessoas negras; é garantir que cada etapa do atendimento seja pensada para elas, para nós,  desde a avaliação até o resultado final”, explica. 

À frente do seu consultório em Salvador (BA), Jéssica assina os cuidados com a pele de nomes como Tarsila Alvarindo, Val Benvindo e Najara (NBlack); se destacando na agenda artística devido ao cuidado técnico, confidencialidade de procedimentos e logística de atendimentos. “Meu foco continua sendo oferecer segurança, eficácia e resultados personalizados. É gratificante ver que mesmo quem está sob os holofotes busca um cuidado especializado e respeitoso para sua pele”, revela. 

O novo fenômeno de figuras públicas que compareceram ao consultório, segundo Jéssica, tem origem no afeto e representatividade que os cuidados com a pele preta trouxeram para a autoestima. A especialista explica que o movimento iniciado por celebridades busca agregar valor e identidade à imagem, mostrando às diferentes gerações que é possível cuidar da pele negra de forma correta e segura“Ao escolherem profissionais especializados, elas não apenas garantem resultados de excelência, mas também inspiram outras pessoas negras a buscarem esse cuidado, ajudando a quebrar mitos e a ampliar a valorização da estética inclusiva”, afirma. 

Em um cenário onde 51% das mulheres negras alegam que o “ideal” de beleza se origina dos membros da própria família, a especialista destaca que a estética é uma ferramenta singular de transformações e reencontro com a ancestralidade. Nesse contexto, Jéssica explica que os cuidados com a pele passam a ocupar, independente de onde estiverem inseridas, um lugar próprio de afirmação, identidade, resistência e memória coletiva.

“No geral, eu vejo a estética como uma ferramenta potente de transformação da autoestima. Quando a pessoa sente que seu rosto ou corpo está sendo cuidado com conhecimento e valorização, ela se reconhece de outra forma no espelho. A representatividade entra como um pilar essencial nesse processo: quando minha paciente percebe que estou preparada para cuidar da sua pele e que também me reconheço nela, isso cria uma conexão que vai muito além de qualquer procedimento, é um cuidado que reafirma identidade e pertencimento”, conclui. 

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Angélica Zago

Angélica Zago

Carioca, nascida na Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo pela Universidade UniCarioca. Atualmente é pós-graduanda pela mesma instituição. Apaixonada pelo carnaval, desde 2004 trabalha na cobertura jornalista deste segmento, além da atuação em empresas como: Rádio Roquette Pinto, Manchete, Portal SRZD, Revista Raça, Ong São Martinho, dentre outras.

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