A Oficina do Crescer, creche e pré-escola localizada na emergente Barra da Tijuca, zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, elaborou uma ação chamativa para provocar o crescimento da diversidade em seu conjunto estudantil: desconto de 50% na mensalidade (em torno de R$2 mil) para crianças negras.
Nesta sexta-feira, a empresa realiza reunião com ao menos uma família interessada no ingresso de uma criança preta na instituição. A expectativa é que a circulação da notícia incentive mais adesões – até o momento, são duas matrículas de jovens negros.
“O nosso currículo adota as metas da ONU. Temos atividades culturais e pedagógicas baseadas nos saberes tradicionais afros, mas queremos um corpo de alunos e professores (isso já acontece) que represente a composição étnica do Brasil. Nós temos uma dívida histórica a ser paga”, explica a diretora pedagógica Stephanie Barbosa.
Advogada e sócia da Oficina, a profissional afirma que a preocupação com o debate da igualdade deriva de seu trabalho em filosofia do Direito. Ela pontua, ainda, que contou com a perspectiva da documentarista, jornalista e diretora cultural Clarisse Mantuano para evitar “deslizes”. A preocupação da escola é formar cidadãos.
“Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida da sua desigualdade. Então, se é necessário uma mensalidade diferenciada para que a igualdade aconteça, é assim que vamos trabalhar. Apesar do meu desejo, eu não conto com um elemento chave: não sou negra”, comenta a diretora pedagógica.
A repercussão da promoção é grande – e, segundo a advogada, positiva, inclusive na comunidade de pais dos atuais alunos. Perpassa, inclusive, o caso de racismo sofrido por uma aluna da escola Escola Dinâmica do Ensino Moderno (Edem), também na capital fluminense – esta, em Laranjeiras, na zona Sul.
“As famílias que nos procuram compartilham dos nossos valores, que são exaustivamente abordados nas reuniões e atividades escolares. Nosso desafio é conseguir alunos negros pois a Barra da Tijuca é um bairro branco”, analisa Stephanie Barbosa.
O caso levanta uma série de questões para além do ponto econômico. A integração das pais e crianças; a abordagem pedagógica; a construção de uma organicidade que crie segregação de nenhuma forma. Seguiremos acompanhando o assunto.