Em Medida provisória: Diário do diretor (Editora Cobogó), Lázaro Ramos narra os bastidores de seu primeiro trabalho atrás das câmeras, como diretor de cinema. Ele conta seu envolvimento com o projeto desde que conheceu a peça Namíbia, não!, de Aldri Anunciação, e decidiu adaptá-la para o cinema. “Entendemos logo que ali havia uma ideia muito original e que trazia debates importantes, principalmente no momento histórico que estávamos vivendo, momento em que a população negra no Brasil estava discutindo intensamente o seu espaço de formação de identidade, direitos e deveres”, escreve no livro.
Além de relatar as etapas de criação de filme, Lázaro Ramos confidencia no texto suas dúvidas quanto a decisões narrativas e estéticas, assim como os obstáculos de produção e distribuição enfrentados na produção do de Medida provisória. “Nunca pensei que em um só trabalho eu teria tantos aprendizados, alegrias e medos. Agora, desejo, de maneira mais apaixonada, contar mais histórias, estando nesta função de diretor. Alguns associam o diretor a um Deus supremo, discordei disso, ou pelo menos desejei ser um diretor que trabalha de outra maneira”, Afirma.
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“Quero ser um enamorado, alguém que vibra a cada conquista do elenco, que mantém a capacidade de se emocionar e se envolver com cada frame visto na sala de edição, e principalmente alguém que consegue, com uma obra artística, abrir outras compreensões do mundo e assim acender no público a certeza de que existe a possibilidade de melhorar o mundo, mesmo que só um pouco”, completa.
Medida provisória, que chega em 14 de abril aos cinemas brasileiros após ser aclamado em festivais nacionais e internacionais, é ambientado no Brasil num distópico futuro próximo. Na trama, após um advogado pedir indenização ao Estado brasileiro pelo tempo de escravização, o governo, como reparação social, decreta uma medida provisória para enviar os negros – que chama de “cidadãos de melanina acentuada” – de volta à África.
Lázaro descreve ainda a experiência de reunir, como protagonistas, 26 negras e negros. “Nós nos juntamos na sala e oferecemos personagens a cada um deles: advogada, cristão, candomblecista, adolescente, bombeiro, YouTuber, vendedor ambulante… Assim fomos construindo um ambiente onde havia diversidade. A proposta era fazer um laboratório criativo de um dia com esses atores, imaginando o que aconteceria se a medida provisória fosse realmente decretada e se esse neoquilombo de fato existisse. Como cada personagem se comportaria nesse ambiente, nesse esconderijo?”
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