Estudo revela tamanho da desigualdade na educação após a pandemia

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São Paulo - Sala de aula vazia da Escola Estadual Terezine Arantes Ferraz Bibliotecaria, no Parque Casa de Pedra, zona norte da capital.

O estudo “Impactos da pandemia na educação brasileira”, realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a Associação D3E e Fundação Lemann revela que os estudantes mais pobres tiveram metade do aprendizado dos estudantes de escolas particulares.

O levantamento mostra ainda que a perda de aprendizagem foi de quatro a dez meses, dependendo da etapa escolar. A taxa de matrícula também caiu e chegou ao menor índice desde 2017, entre crianças de zero e 14 anos. Segundo o estudo, “são pelo menos cinco anos de defasagem”.

A taxa de matrícula caiu mais de 4% nos últimos 4 anos – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Na faixa entre 4 e 5 anos, o percentual de alunos matriculados caiu de 86,9%, em 2019, para 82,2% em 2021. O documento ressalta a importância desta faixa etária pra a aprendizagem. “Esta é uma etapa de ensino obrigatória, em que os alunos já começam a se preparar para a alfabetização no começo do ensino fundamental”.

A pesquisa ressalta também que as desigualdades durante e depois da pandemia foram mais evidenciadas e, segundo os pesquisadores, existem diferentes hipóteses que podem explicar esse fenômeno social.

“Durante a crise sanitária, os estudantes mais pobres e com pais menos escolarizados, provavelmente foram mais prejudicados no acesso e na capacidade de usar a tecnologia para o aprendizado no formato remoto. A qualidade do seu ambiente de aprendizagem em casa e o apoio que receberam dos professores e pais, além da condição dentro de suas casas para estudar autonomamente, também impactaram a sua aprendizagem”, afirma a nota técnica da UFRJ.

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Escola em tempo integral seria uma das soluções para combater a desigualdade na educação – Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Para a coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais da UFRJ, Mariane Koslinski, que assina o estudo com o pesquisador Tiago Bartholo, os números podem ser ainda mais relevantes quando de trata de escolas públicas.

“A meu ver, todos os dados que temos hoje de abandono escolar estão subdimensionados. Em 2023, teremos um cenário mais claro de quantas crianças estão fora da escola, com o Censo Escolar e o Censo do IBGE”, afirma.

Ministério da Educação

O levantamento também pontua a omissão ou não participação do Ministério da Educação (MEC) na melhoria da cobertura da educação no Brasil, principalmente nas etapas iniciais da alfabetização, e cobra uma posição mais concreta da pasta.

“O MEC precisa assumir um papel de protagonismo na elaboração e na implementação de um plano nacional de recuperação, com aportes adicionais de recursos para guiar e apoiar as ações de gestores públicos estaduais e municipais da área de educação”, afirma o documento.

Sugestões

Além do diagnóstico da desigualdade na educação, o estudo faz algumas sugestões e apresenta propostas para amenizar o abismo entre a educação pública e privada. Segundo o trabalho, a expansão do tempo de instrução (ampliação dos dias letivos, abertura das escolas nos fins de semana ou “escola nas férias”) e a tutoria individual ou em pequenos grupos nos formatos presencial, híbrido ou online, são soluções a médio e longo prazos que podem ser implantadas desde já.

Já para combater a evasão escolar, as estratégias são mobilização comunitária, estratégias de gestão e monitoramento das frequências dos alunos e auxílio financeiro de permanência estudantil. Outra sugestão que pode surtir mais efeito é o ensino em tempo integral.

“O ensino integral é um desafio do ponto de vista de custo, mas tem elementos estruturantes. E a experiência já demonstrou que se traduz mesmo em aprendizagem”, finaliza a nota técnica da UFRJ.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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