Educação Antirracista e a Lei 10.639 são ferramenta para reduzir a desigualdade histórica

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Por Thais Bernardes, jornalista, fundadora e CEO do Notícia Preta

A exclusão educacional da população negra no Brasil é uma consequência direta da nossa história de colonização e escravidão. Durante os mais de 300 anos em que a escravidão vigorou no país, homens e mulheres negros eram impedidos de acessar a educação formal e tratados como mercadorias, com seus direitos humanos violados. Essa estrutura escravagista não apenas excluía os negros da educação formal, mas também negava seu conhecimento e cultura, reforçando uma narrativa de desvalorização da identidade africana.

A Lei 10.639 busca promover a valorização da contribuição da população negra e afro-brasileira /Foto: Pexels

Mesmo após a Abolição da Escravatura, em 1888, a população negra continuou a enfrentar barreiras significativas no acesso à educação. O Estado brasileiro, ao contrário do que se viu em outros países que adotaram políticas de inclusão pós-abolição, não implementou políticas públicas para integrar ex-escravizados ao mercado de trabalho ou ao sistema educacional. Sem nenhuma assistência para sua integração na sociedade, a maioria das famílias negras permaneceu em condições de extrema pobreza, vivendo à margem da sociedade e fora dos espaços de ensino. Essa omissão do Estado fez com que gerações de brasileiros negros continuassem distantes da educação formal, perpetuando um ciclo de desigualdade e pobreza.

A Discriminação e os Preconceitos no Sistema Educacional

Nas décadas seguintes, o racismo estrutural e a discriminação continuaram a afetar o acesso de negros à educação. Até meados do século XX, políticas e práticas discriminatórias, muitas vezes institucionais, excluíam as populações negras de escolas de qualidade, limitando-as a instituições de ensino precárias e mal equipadas. Além disso, a ausência de políticas educacionais voltadas para a valorização da cultura afro-brasileira e africana reforçava a ideia de inferioridade racial, que foi perpetuada nos materiais didáticos, no currículo escolar e nas práticas pedagógicas.

Os poucos que conseguiam avançar na educação enfrentavam também o apagamento cultural nas salas de aula. Ao longo da história, o sistema educacional brasileiro adotou uma narrativa eurocêntrica, ignorando as contribuições africanas e afro-brasileiras. Essa lacuna fez com que gerações de estudantes, tanto negros quanto brancos, fossem educados sem entender a verdadeira riqueza e diversidade da cultura e da história afro-brasileira. Como resultado, formou-se uma sociedade com pouca ou nenhuma compreensão das causas e consequências das desigualdades raciais.

A Lei 10.639 como Instrumento de Transformação Social

Promulgada em 2003, a Lei 10.639 busca reverter séculos de exclusão educacional e cultural, promovendo uma educação que valorize a contribuição da população negra e afro-brasileira para a construção da sociedade. Ela reconhece a importância de educar crianças e jovens sobre a História e Cultura Afro-Brasileira, não apenas como um resgate histórico, mas como uma ferramenta para construir uma nova geração de brasileiros conscientes e críticos.

A lei não só visa corrigir as distorções históricas nos currículos, mas também age como um antídoto contra o racismo estrutural. Diversos estudos indicam que a educação antirracista tem um impacto positivo na autoestima e no desempenho acadêmico de jovens negros, além de promover um ambiente escolar mais inclusivo. Esse impacto é especialmente relevante quando consideramos que, historicamente, a evasão escolar entre jovens negros é maior devido à falta de identificação com o conteúdo escolar e às situações de preconceito que muitos ainda enfrentam.

O Papel da Escola de Comunicação Antirracista na Educação para a Igualdade

A Escola de Comunicação Antirracista, iniciativa do Notícia Preta, surge como uma extensão da proposta da Lei 10.639, oferecendo cursos que promovem a conscientização sobre o racismo e capacitam profissionais para atuar com uma perspectiva inclusiva e antirracista na comunicação. Ao fomentar a valorização das narrativas afro-brasileiras e capacitar profissionais a questionar e desconstruir estereótipos, a Escola de Comunicação Antirracista contribui para que a educação inclusiva seja não apenas um tema de sala de aula, mas um compromisso para toda a sociedade.

A Lei 10.639 é mais do que uma diretriz curricular; é uma resposta histórica às injustiças impostas à população negra no Brasil. Implementar essa lei é essencial para garantir que a educação brasileira deixe de ser uma ferramenta de exclusão e se transforme em um instrumento de inclusão e equidade. Ao dar voz e espaço para a história e cultura afro-brasileiras, promovemos o respeito e a valorização da diversidade, elementos essenciais para a construção de uma sociedade mais justa.

Iniciativas como a Escola de Comunicação Antirracista ampliam esse trabalho, mostrando que a educação antirracista não se limita às escolas. Somente com o engajamento de toda a sociedade poderemos romper o ciclo de exclusão e construir um futuro em que a igualdade racial seja uma realidade.

Educação e Capacitação

Em parceria com o Notícia Preta estão abertas as inscrições para o curso Coletivo Online do Instituto Coca-Cola Brasil (ICCB). A iniciativa direcionada para jovens de 16 a 25 anos que estejam cursando ou já tenham concluído o Ensino Médio, é online, realizada pelo WhatsApp, e é 100% gratuito.

Ao final das aulas, o aluno recebe um certificado e o acesso a vagas exclusivas em mais de 400 empresas parceiras da iniciativa. Para saber mais detalhes e se inscrever, basta acessar o link: https://bit.ly/ColetivoOnlineNoticiaPreta

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