O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) formalizou na última quarta-feira (20) seu afastamento da Câmara dos Deputados por um período de 122 dias. Segundo o documento registrado no sistema da Casa, dois dias do afastamento são para “tratamento de saúde” e os demais 120 dias foram justificados por “interesse particular”. A decisão imediatamente gerou especulações sobre uma possível mudança definitiva do parlamentar para os Estados Unidos.
A licença, superior a 120 dias, obriga a convocação de um suplente para ocupar temporariamente o mandato, conforme determina o Regimento Interno da Câmara. O nome do substituto ainda não foi anunciado oficialmente, mas deve sair nos próximos dias, segundo a Secretaria-Geral da Mesa.

A ausência repentina de Eduardo — que, além de deputado, é um dos principais porta-vozes da ala mais radical da extrema direita brasileira — causou estranheza até mesmo entre seus aliados. Parlamentares próximos ao filho do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmaram que não foram informados sobre os motivos reais do afastamento nem sobre seu destino durante o período de licença. A principal hipótese levantada nos bastidores é a de que Eduardo estaria preparando uma mudança de longo prazo para os Estados Unidos, onde já possui vínculos com grupos conservadores e armamentistas.
Para integrantes do próprio PL, a decisão de pedir licença — e não renunciar ao cargo — sinaliza que o deputado pretende manter seu espaço político e a proteção parlamentar, enquanto avalia os próximos passos. “Se quisesse apenas sair de cena até 2026, ele poderia renunciar“, ponderou um aliado sob condição de anonimato.
Em meio às especulações, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, criticou duramente a postura do deputado. Em entrevista à CNN Brasil nesta sexta-feira (21), a também presidente nacional do PT acusou Eduardo Bolsonaro de promover ataques infundados ao Brasil em nível internacional e classificou sua atitude como covarde.
“Eduardo Bolsonaro presta desserviço ao Brasil, difamando o país, mentindo sobre o Brasil lá fora, dizendo que aqui é uma ditadura. Ele tenta criar uma situação para se vitimizar e dizer que está sendo perseguido. É um medroso, porque não enfrenta o debate político”, declarou Hoffmann.
A fala da ministra faz referência às declarações recorrentes de Eduardo Bolsonaro em eventos e redes sociais nos Estados Unidos, onde já acusou o governo brasileiro de autoritarismo e censura — afirmações que não se sustentam, mas alimentam a retórica da extrema direita internacional.
O afastamento de Eduardo também ocorre num momento delicado para a família Bolsonaro. Investigações em curso atingem aliados próximos do ex-presidente e levantam suspeitas sobre o envolvimento de membros do clã em diversos escândalos, como os casos das joias sauditas, as fraudes no cartão de vacinação e a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A fuga recente do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, para os Estados Unidos, e sua posterior prisão, reforçou o clima de insegurança entre bolsonaristas.
Para observadores da cena política, o afastamento de Eduardo Bolsonaro, sem justificativas claras e em meio a crescentes pressões judiciais, parece mais uma estratégia para ganhar tempo e proteger-se politicamente do que uma decisão pessoal. A Câmara dos Deputados, até o momento, não se pronunciou oficialmente sobre o contexto da licença.
Enquanto isso, os próximos passos do deputado, dentro ou fora do Brasil, permanecem envoltos em silêncio, incertezas e especulações.
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