“E o Lula, hein?” – Discurso não é conversa de bar

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Por Alessandra Costa*

Antes de mais nada, preciso dizer que esse texto é técnico e não político, mesmo sabendo que vai esbarrar na política, mas o caso aconteceu na última quarta-feira (08), quando o presidente Lula fez um discurso exaltando a democracia, condenando os atos antidemocráticos de janeiro de 2023 e, em determinado momento, soltou uma frase que, além de extremamente machista, também é problemática. 

Segundo o mandatário, ele não é nem marido, mas “um amante da democracia. Porque, na maioria das vezes, os amantes são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres. Eu sou um amante da democracia e conheço o valor dela”. Não vou entrar no recorte de gênero dessa fala, mas na questão comunicacional. 

Assessora de Imprensa Alessandra Costa /Foto: Gabriel La

Assessores de imprensa e pessoas ligadas ao marketing político em geral, orientam seus clientes em praticamente todas as ocasiões que eles terão contato com a imprensa de modo geral, mas, em alguns casos, estes assessorados fazem o que bem entendem e podem complicar a vida do assessor. 

Inclusive, nesse mesmo dia 8 de janeiro, uma data emblemática para a democracia brasileira, o presidente trocou o chefe da comunicação da Presidência da República, Paulo Pimenta, pelo marqueteiro que fez sua campanha presidencial vitoriosa em 2022, Sidônio Palmeira. Ou seja, já chegou com a batata quente nas mãos, gerenciando uma crise que até a primeira-dama, Janja Lula condenou. 

Essa não é a primeira – e acredito que não será a última – vez que o presidente Lula comete esse tipo de “gafe”. Há algum tempo, também durante um discurso, em Cabo Verde, na África, não foi em conversa de bar, Lula disse que nós brasileiros “temos profunda gratidão ao continente africano por tudo que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país”. Não, Lula, não agradecemos a escravização. 

Usei essas falas do presidente como exemplo, mas podem ser outras situações também. E por que digo isso? Pelo simples fato de que emplacar pautas em veículos de grande repercussão é extremamente complicado e entrevistas mais ainda. Logo, o cliente precisa ser bem orientado e seguir essas orientações, até porque você não é o único cliente que uma assessoria possui e, dependendo do que for dito em um determinado programa ou entrevista, deixa o assessor em maus lençois e pode fechar alguma porta. 

Nessa minha trajetória profissional já abri muitas portas e até algumas janelas. São anos de construção de relação e parceria com os veículos, jornalistas e editores. Portanto, conversa de bar, fica no bar, seja no discurso ou na entrevista, porque nessa hora, quem paga a conta é o assessor

*Alessandra Costa é assessora de imprensa com 18 anos de experiência, atendendo o setor artístico-cultural e político, com uma carteira diversa e em potencial expansão. Atualmente, atende contas como Encontro do Cinema Negro Zozimo Bulbul, Cia de Teatro Epigenia e a vereadora licenciada e Secretária Municipal de Meio Ambiente, Tainá de Paula (PT). Com mais de 400 trabalhos executados, se tornou referência na divulgação de projetos ligados à cultura negra, combate ao racismo e às desigualdades, promoção de oportunidades e conquista de espaços para artistas negros e a lideranças negras – tanto em suas comunidades, na política e na economia.

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