Dia Internacional de Nelson Mandela

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Por Adilson Moreira*

Alguns seres humanos se tornam referências para todos os outros em função de vários motivos. Alguns pela estatura moral, outros pela relevância política; muitos pela importância da luta, vários pela resistência e determinação. Mas alguns deles são celebrados como grandes líderes porque todos esses fatores se mostram presentes nas suas vidas, o que os permite produzir grandes transformações sociais.

18 de julho é comemorado o Dia Internacional Nelson Mandela – Foto:

Elas ocorrem porque grande parte de uma sociedade reconhece nas falas e nos atos de um indivíduo a inspiração para buscarem novas formas de organização coletiva, novas configurações de relações políticas. Ao lado de Martin Luther King, Nelson Mandela expressa um ideal de humanidade que todos os habitantes deste planeta devem aspirar.

Nelson Mandela lutou pela emancipação da população negra contra o regime de apartheid da África do Sul, imposto por uma minoria branca descendente de europeus que invadiram aquela região séculos
antes. Convencidos da suposta superioridade racial de pessoas brancas e da suposta inferioridade racial de pessoas negras, esses colonizadores estruturaram uma sociedade baseada na exploração sistemática da população negra.

Sendo o racismo um regime de dominação social que procura garantir vantagens competitivas para pessoas brancas, todo o sistema do apartheid estava construído para impedir que negros e negras pudessem ter qualquer tipo de protagonismo social; aquele regime estava inteiramente construído em torno da limitação de direitos, da negação da igualdade e da supressão da liberdade.

Mas, como Mandela afirmou nas cartas que escreveu durante as décadas que permaneceu preso, o ser humano sempre faz o possível para reafirmar seu senso de autodeterminação, medida de sua dignidade inata. Mais do que um princípio central da cultura democrática, ele é também um parâmetro de subjetivação nas sociedades modernas; as pessoas desenvolvem a expectativa de que poderão ser pessoas autônomas, mesmo quando vivem em regimes autoritários, o caso do regime de segregação racial que vigorava no seu país.

Ser uma pessoa autônoma significa poder dar sentido e propósito às suas ações, o que depende não apenas da vontade individual, mas também de um regime político comprometido com a liberdade individual e coletiva. Mandela se tornou uma referência histórica em função da sua crença e da sua luta pela possibilidade de autodeterminação individual e coletiva. Ela o motivou a lutar contra a ditadura racial que vigorava em seu país, possibilitou que ele mantivesse seu compromisso com esse objetivo durante o longo período que permaneceu preso. Além disso, Mandela teve um papel central no processo de reconstrução dos padrões de sociabilidade da sua nação, um objetivo difícil em uma sociedade construída em torno da hegemonia branca.

Celebrar o dia internacional de Nelson Mandela significa muito mais do que expressar nossa admiração por um ser humano com qualidades morais extraordinárias. Esse homem lutou pela emancipação humana, um objetivo que só pode ser alcançado dentro de uma realidade social bastante específica. A possibilidade de ser livre implica um comprometimento com a eliminação de ideologias sociais que legitimam relações hierárquicas de poder, significa um compromisso com a superação das consequências de práticas discriminatórias, problema que também compromete as gerações futuras.

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A construção de uma sociedade democrática requer também a solidariedade entre os membros da comunidade política, motivo pelo qual ideologias nefastas como o racismo devem ser combatidas a todo custo. Esse espírito de solidariedade está diretamente relacionado, afirmou Mandela, com a generosidade. A superação dos problemas gerados por divisões raciais só pode ocorrer quando todas as pessoas estão comprometidas com a ajuda mútua, com a construção coletiva de condições necessárias para o exercício da autodeterminação.

Celebrar Nelson Mandela significa celebrar o valor do pluralismo nas sociedades democráticas, o que inclui a participação de todos os grupos sociais nos processos de deliberação política.

* Adilson Moreira é professor do curso de Direito na Faculdade de Direito (FDir) na Universidade Presbiteriana

Mackenzie

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