Mais de quatro anos após o início da pandemia, o nível de aprendizagem dos estudantes brasileiros da educação básica ainda não se recuperou. É o que aponta um levantamento recente do movimento Todos Pela Educação, que analisou dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) referentes a 2023.
O cenário revela que, apesar da retomada das aulas presenciais e de diversas ações de recomposição das aprendizagens, os alunos seguem, em média, com desempenho inferior ao registrado antes da crise sanitária, em 2019.
A situação é particularmente crítica no ensino médio. Em Língua Portuguesa, a proporção de alunos com aprendizado considerado adequado caiu de 33,5% em 2019 para 32,4% em 2023. Já em Matemática, os números são ainda mais preocupantes: apenas 5,2% dos estudantes atingiram o nível esperado de proficiência, uma queda em relação aos 6,9% registrados antes da pandemia.
No ensino fundamental, a tendência também é de estagnação ou piora. No 5º ano, por exemplo, houve leve retração tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática. O mesmo padrão foi observado no 9º ano, evidenciando que a recomposição das aprendizagens não tem avançado no ritmo necessário.

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Desigualdades raciais se aprofundam
Além da queda no desempenho médio, o estudo alerta para o crescimento das desigualdades raciais no aprendizado. Os dados mostram que estudantes pretos, pardos e indígenas enfrentam dificuldades ainda maiores para alcançar níveis adequados de aprendizagem em comparação com estudantes brancos e amarelos.
No 9º ano do ensino fundamental, por exemplo, 45% dos estudantes brancos e amarelos alcançaram nível adequado em Língua Portuguesa em 2023, enquanto entre pretos, pardos e indígenas esse índice foi de apenas 31%. Em Matemática, a defasagem entre os dois grupos aumentou 2,4 pontos percentuais em relação a 2019.
No 5º ano, o padrão de desigualdade racial se repete, com ampliação da distância entre os grupos nas duas disciplinas avaliadas. Segundo o estudo, essas desigualdades também se cruzam com recortes socioeconômicos, evidenciando que estudantes de famílias mais pobres — que são majoritariamente negras e indígenas — enfrentam múltiplas barreiras educacionais.
O Todos Pela Educação destaca que, embora o retorno às aulas tenha trazido algum fôlego, o país ainda está longe de garantir o direito à aprendizagem de forma equitativa. O agravamento das desigualdades raciais e sociais ao longo da última década exige ações urgentes e estruturais, que vão além da recomposição de conteúdos.
Entre as recomendações do movimento estão o fortalecimento de políticas de equidade, o investimento na formação de professores e o monitoramento permanente dos indicadores de qualidade e justiça racial no ensino público.