O fim de um ano e alvorada de um novo ciclo costumam ser repletos de muita reflexão sobre o que se passou, e expectativa sobre o que está por vir. O Notícia Preta foi ao Mercadão de Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro, para descobrir alguns costumes e tradições do público para esta época do ano, que seja realizar uma determinada atividade ou comer algo específico, por exemplo.
Em entrevista no Mercadão, a historiadora Veronica Moura dos Santos citou algumas das suas tradições de final de ano. Ir à praia no último dia do ano para fazer uma oferenda para a orixá Iemanjá e não comer carnes como frango e peru, por serem animais que “ciscam” para trás. Ela indica o consumo de carnes como pernil e bacalhau.
Veronica também destaca o preparo de defumadores caseiros para afastar más energias e atrair. No começo do dia um defumador composto por ingredientes como pimenta, enxofre e café, para limpar energias negativas. Em seguida, outro defumador, dessa vez feito com componentes de teor “doce”, como canela, cravo, anis estrelado, açúcar mascavo, folhas de loro etc.
Rituais e tradições brasileiras
No Brasil, as celebrações de Ano Novo são marcadas por uma série de rituais que misturam espiritualidade, simbolismo e influências culturais.
Em Salvador, a Igreja do Senhor do Bonfim se torna o principal ponto de encontro na última sexta-feira do ano, chamada de “Sexta-feira da Gratidão”. Fiéis de diferentes estados vão até o templo para pedir proteção para o próximo ano e levar objetos para serem benzidos, como colares, as famosas fitinhas do Bonfim, chaves de casa, fotos e até mesmo carros.
Nas praias brasileiras, a devoção a Iemanjá, a Rainha do Mar, une espiritualidade e celebração. Candomblecistas e da umbandistas realizam oferendas como flores, perfumes e espelhos, ou participam do tradicional ato de pular as sete ondas, acreditando que o ritual atrai boas energias. Originalmente uma divindade iorubá da Nigéria, Iemanjá foi incorporada às religiões afro-brasileiras e tornou-se um símbolo de proteção e força feminina.
A tradição de pular as sete ondas na virada do ano também é ligada à umbanda e ao culto a Iemanjá. O número sete possui um significado especial, representando Exu, filho de Iemanjá, além das Sete Linhas de Umbanda, organização espiritual comandada por orixás. Cada pulo seria um pedido direcionado a uma entidade diferente.
A tradição de vestir branco, hoje amplamente difundida no Brasil, também tem origem no candomblé. Adotada por sua beleza e pelo simbolismo de paz, a prática se consolidou entre as décadas de 1950 e 1970, quando oferendas realizadas na praia de Copacabana inspiraram outras pessoas a seguirem o costume.
Quando surgiu a celebração do Ano Novo
A celebração da passagem de ano não é algo recente, existe há mais de 4 mil anos. A história indica que o primeiro povo a celebrar o ano novo teria sido o da Mesopotâmia, que hoje corresponde aos territórios de Iraque, Kuwait, Síria e Turquia – países do Oriente Médio. Contudo, a celebração dos mesopotâmicos se dava antes da criação do calendário que hoje utilizamos. Por serem um povo altamente ligado à agricultura, eles celebravam a “virada” do ano no equinócio de primavera, quando a estação do florescer dava lugar o inverno, e se iniciava uma nova safra de plantação.
Por isso, a festa de virada dos mesopotâmicos não era do dia 31 de dezembro para o 1° de janeiro, e sim do dia 22 para o 23 de março, quando ocorre o equinócio de primavera no hemisfério norte.
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