Desde a última quinta-feira (06), forças de segurança do atual governo da Síria, do presidente interino Ahmed Sharaa, e forças aliadas ao antigo regime de Bashar al Assad, estão em confronto no Noroeste do país. De acordo com testemunhas alauitas, grupo étnico-religioso que habita a região, o governo está realizando “uma limpeza étnica, um genocídio”. Foram totalizadas 1.454 mortes desde a última quinta-feira.
A motivação, segundo o governo sírio, é de que o exército estava em uma operação na cidade de Latakia, quando foram atacados e então responderam com um envio maciço de suas tropas. Os alauitas, no entanto, afirmam que o governo da capital Damasco tem invadido as casas em Latakia e Tartus, regiões que abrigam essa população, considerada minoria xiita de apoiadores do ex-ditador.

Segundo apurações do Fantástico, a população afirma estar sendo alvo de limpeza étnica dos sunitas, que tomaram o poder em dezembro do ano passado, após quase 14 anos de guerra civil. O porta-voz, que não se identificou, explicou ao programa que apenas alguns alauítas extremistas eram a favor da perseguição aos sunitas, enquanto muitos integrantes da comunidade eram contrários ao antigo ditador.
O Observatório dos Direitos Humanos da Síria (SOHR) divulgou, no último domingo (09), que foram documentadas 973 mortes de civis, incluindo mulheres e crianças, em 39 massacres e execuções individuais por parte dos militares e de segurança, além de serem mortos 231 membros dos serviços de segurança e do Ministério da Defesa e 250 armados alauítas aliados ao antigo regime.
De acordo com o observatório, que nomeou as ações como um genocídio, “ainda estão em andamento, (e) coincidem com incêndios em casas de civis e deslocamentos forçados, enquanto nenhuma autoridade internacional interferiu ou tomou qualquer ação até agora para pôr fim a esses massacres”, em tradução livre.
O SOHR ainda realizou um apelo à comunidade internacional para que haja uma intervenção imediata e o envio de investigações internacionais, a fim de que as violações contra civis sejam documentadas. O observatório solicitou que as autoridades sírias em Damasco responsabilizem os envolvidos na execução dos civis inocentes.
Governo justifica ataques: “restabelecer a ordem”
Desde a troca de governo na Síria, essa é a primeira grande denúncia de repressão das autoridades. O novo regime reconheceu, neste sábado (08), os ataques no noroeste do país, afirmando que “reestabeleceram a ordem”, segundo a agência AFP.
Para o governo, os alauítas são uma “insurgência” e que emboscaram as tropas de Damasco, matando dezenas de seus soldados. As autoridades da capital afirmaram que a violação de condutas durante a operação foram atribuídas a uma parte desorganizada de civis e combatentes que buscavam cometer crimes em meio aos combates.
Neste domingo (09), o Estado Americano e o Comitê de Direitos Humanos da ONU cobraram uma ação do governo sírio para conter o massacre das minorias. O governo sírio anunciou que iniciará uma campanha de segurança e um comitê de emergência, com o objetivo de monitorar as violações e desobediência às ordens e encaminhá-las para um tribunal militar.
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