O ano de 2024 será de grandes estreias no audiovisual brasileiro e uma delas é a série Cidade de Deus que terá a atriz Roberta Rodrigues como uma das protagonistas. Em entrevista exclusiva ao Notícia Preta, ela revela que as “mulheres estarão de frente” na série. Roberta abriu o jogo no set de filmagem e contou sobre o desenvolvimento de sua personagem, Berenice.
Ela falou sobre a personagem e a diferença do momento político do filme de 2002 para a série em 2023/24. A atriz comentou sobre a evolução de Berenice na série, e conta que sempre achou a personagem empoderada!
”Ela já era mulher de um assaltante e podia se acomodar com isso, mas ela decide não ficar aceitando aquilo apesar de amar o Cabeleira, isso é uma prova de independência. Na série ela é presa devido a tudo que aconteceu, mas ela decide abrir o salão, vira cabelereira e empreende dentro da comunidade”, afirma Roberta.
Ainda em 2002, no processo seletivo para o filme, havia grande disputa entre as 100 atrizes que estavam fazendo teste para conseguir a personagem, e ela ficou surpresa e grata ao ser selecionada para interpretar a Berenice no Cidade de Deus.
“Eu fiquei tão apegada a energia boa que se criou nas gravações do filme, que quando acabou a minha parte nas gravações eu pedi pra ficar mais e fiquei ajudando de assistente de maquiagem, ninguém sabe, mas fui assistente de maquiagem no filme”, disse.
Revolução no audiovisual
“Quando Cidade de Deus estreou, minha mãe e meu pai foram a primeira vez ao cinema, pela primeira vez na vida, e eles se viram representados”, disse a atriz comentando sobre como o filme que mudou sua vida e também sobre como modificou o cinema brasileiro.
Para ela existe um, “audiovisual antes e depois do Cidade de Deus, o olhar internacional mudou sobre a produção brasileira, tudo mudou, ninguém reconhece isso hoje, porque temos uma nata muito potente no Brasil que decide manter a gente nesse lugar de não ascensão, julgaram o filme como violento e fez com que o filme não ocupasse o lugar dele internacionalmente”, afirmou.
Em 2004 o filme concorreu ao Oscar em quatro categorias e em 2022 a plataforma online Preply colocou o filme como segundo filme estrangeiro mais assistido no mundo, fora a produção Hollywoodiana. O filme Cidade de Deus ficou atrás apenas do filme francês “Os intocáveis”.
“Saber que temos o segundo filme estrangeiro mais assistido do planeta, e saber que o Brasil decidiu não se reconhecer nisso pra mim é muito assustador”, lamentou.
Renascimento na carreira
A atriz diz que a série vem em bom momento, pois dois anos atrás ela havia desistido da carreira. “Eu havia sofrido racismo de um diretor em uma novela, e eu fiquei deprimida, peguei todas as minhas coisas em casa e queimei, roupas que usei no Festival de Cannes, pensei, ‘vinte anos não valeram de nada'”, revelou.
O diretor da série, Aly Muritiba, explica que a história é cheia de ligação com as lutas sociais do povo periférico de hoje e ele assumiu o compromisso de dirigir a série com participação ativa das pessoas que compõe o trabalho.
“Queria muito que as pessoas que viessem fazer essa história tivessem de alguma maneira ligação íntima seja com as periferias, seja com o Movimento Negro e com as lutas todas sociais que são travadas hoje em dia”, disse.