Carnavalesco Milton Cunha estreia programa sobre Carnaval, negritude e cultura africana

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Milton Cunha com jovens / Márcio Alves / Agência O Globo

O carnavalesco Milton Cunha iniciou o programa “Enredos e questões de negritude no samba”, uma sequência de lives semanais no canal do YouTube Sambistas da depressão. O projeto foi pensado para explorar o continente africano e sua cultura, tema da maioria das escolas do Carnaval carioca, em 2022 – ainda sem data confirmada para acontecer devido a Pandemia.

Milton Cunha com jovens / Márcio Alves / Agência O Globo

As participações da live contarão com um representante da escola de samba, uma pessoa que esteja envolvida na produção do enredo ou carnavalesco e um teórico sobre o assunto. O Notícia Preta conversou com Jorge Santana, professor de história, mestre e doutorando em Ciências Sociais pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (PPCIS/ UERJ).

Segundo Santana, existe um problema no carnaval, que não é apenas do carnaval, mas do Brasil, fruto do racismo estrutural. “Pretos são os responsáveis pela cozinha enquanto os brancos ficam na sala. A comunidade negra criou o carnaval e sempre trabalhou no carnaval, contudo, não figurava nas posições de destaque e prestígio”, afirmou.

Jorge Santana é historiador e discute negritude / Foto: Rossana Fraga

O carnaval realizado no Rio de Janeiro, que depois chega em São Paulo, tem influência do Antigo Egito, das comemorações feitas para as festas de Ísis e do boi Ápis. Também o carnaval de rua, muito comemorado na cidade de Salvador-BA, foi uma criação da comunidade negra brasileira no final do século 19; devido a exclusão social da época, eles eram proibidos de entrar nas festas dentro dos clubes sociais. Silas de Oliveira, Martinho da Vila ou Neguinho da Beija-flor são personalidades negras do carnaval brasileiro e ao falar esses nomes, logo os associamos ao carnaval do Rio de Janeiro e São Paulo. Entretanto, historicamente, assuntos com temática social são abordados e falados por pessoas brancas. 

Na análise do professor Jorge Santana, as pessoas brancas têm posição de destaque no carnaval carioca. “Enquanto os reais criadores da comemoração estão consertando o carro alegórico dois minutos antes do desfile, os brancos carnavalescos estão dando entrevista e recebendo os holofotes”, critica. O professor defende que “precisamos não somente que os negros sejam protagonistas do carnaval, mas sim que estejam nos holofotes, ganhando os lucros e os louros. Como necessitamos também de escolas, bolsas e programas para formar profissionais negros para ocupar esses espaços. Assim como a necessidade resgatar grandes personalidades negras, as quais foram fundamentais pro carnaval e por muitas vezes caem no esquecimento”, pontua.

Sobre a live do carnavalesco Milton Cunha, Santana questiona que “os negros no Brasil devido a exclusão social, econômica e educacional, não tinham formação e capital social para atuarem em locais de destaques. Hoje com as políticas públicas educacionais e as cotas temos cada vez mais negros qualificados para fazer o debate e portanto devem ser eles, negros e negras, aqueles a terem o protagonismo quando nós falamos sobre questões da negritude e de racismo. É triste colocar brancos para tratarem de questões negras num momento em que nascem canais como a Trace e a AfroTV. Desta forma, ainda precisamos questionar, criticar essas instituições para que os negros ocupem esses lugares”, conclui.

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