“No caminho da humanidade”, diz a atriz Tatiana Tiburcio sobre a série ‘Amar é para os fortes’

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A série ‘Amar é para os fortes’, baseada no sétimo álbum do artista Marcelo D2, também é inspirada na realidade e na vivência de milhares de moradores de favelas. Uma operação policial acontece na comunidade da Maré no Rio, em pleno Dia das Mães, quando uma criança de apenas 11 anos, é morta. No meio dessa tragédia, duas mães negras sofrem com as consequências dessa ação.

Para a atriz Tatiana Tiburcio, que na trama disponível no Prime Video vive a personagem chamada Rita, que perde o filho, a história é contada de forma cuidadosa. “A construção vai no caminho da humanidade, do indivíduo, e não do arquétipo, do estereótipo. Você é colocado desde o primeiro instante da história, colocado diante de várias pessoas. Com pai, mãe, raiz, memória, beleza, alegria, personalidade…é jogado diante da sua cara aquela humanidade que essas mães tentam resgatar debaixo desse auto de resistência“.

Tatiana Tiburcio como Rita, que perde o filho de 11 anos em uma operação policial, em sua comunidade /Foto: Rachel Tanugi – Divulgação

Tatiana também afirma, que contar essa história lhe provocou diferentes sensações. “Foi doloroso pelo obviedade do tema, pelos atravessamentos que ele traz e os gatilhos que ele desperta independente da história de cada um de nós, por ter esse lugar que a gente se identifica que é o lugar da negritude. É muito difícil sentir a dor dessas mães. Mas é prazeroso pois a gente tem a oportunidade de mostrar essas pessoas, que dentro de um contexto racista que a gente vive, estão no imaginário quem dá as regras do jogo“.

De acordo com a atriz Mariana Nunes, que na série interpreta a Edna, mãe do policial que mata o menino, contar essa história foi difícil também, mas diferente de outras experiências. “Essa série tem um diferencial. Não vai só na dor, só na exposição, no mais do mesmo, como a gente vê na vida e na TV. Por isso foi muito gratificante também“.

O ator Maicon Rodrigues, na pele do policial Digão, filho de Edna, reafirma que a trama foca mais nas movimentações posteriores ao fato.

É um desafio contar essa história que é difícil de descer, sempre colocado na mídia num lugar espetaculoso, com essas mães chorando. E essa série joga a luz para o que vem depois dessa tragédia, como ficam essas famílias. Sem contar que são duas mães pretas, duas famílias pretas que acabam se entrelaçando e se veem ali refém do estado, em contextos diferentes“, pontua o ator que fala sobre pessoas negras estarem dos dois lados dessa história.

Ao perder seu filho ‘Sushi’ (João Tiburcio), para a violência policial, Rita conta com a ajuda de seu filho mais velho chamado Sinistro, que movimenta a comunidade em busca de justiça por seu irmão, e que é vivido pelo ator Breno Ferreira. Segundo ele, ter gravado na Maré, tornou a vivência da série ainda mais real. “Tudo te arrebata. Você estar nesse lugar contando esse tipo de história, que também se aproxima muito da minha trajetória, é muito difícil. A gente está falando do cotidiano de muita gente, e a gente sabe do que estamos falando“.

De acordo com Marcelo D2, o nome da série, que é o mesmo do seu sétimo álbum, nasce a partir de uma tragédia pessoal. Assinando o roteiro do projeto junto com Camila Agustini, Antonia Pellegrino, Daniel Castro, Yasmin Thayná e Rafael Souza-Ribeiro, Marcelo conta que sentia a necessidade de falar sobre esse tema que ele já trata há 30 anos em seus trabalhos, de uma outra forma.

É um assunto cansativo, duro, com tantas camadas, mas ele ta ai. Não adianta varrer para debaixo do tapete. E a série para mim, trouxe essa possibilidade de construir um diálogo de uma maneira diferente“, diz o artista.

É um grito de insatisfação com o sistema de segurança pública. A partir disso a gente faz uma opção de mergulhar na realidade das famílias que tem que lidar com isso cotidianamente, para através de uma abordagem de afeto, de família, tentar trazer uma sensibilidade maior sobre essa questão“, diz a roteirista Camila Agustini.

Segundo uma das diretoras da série Yasmin Thayná, que conduziu as gravações junto de Kátia Lund e Daniel Lieff, o processo de direção tomou certos cuidados. “Umas das principais questões era como não tornar isso um espetáculo e sensacionalista, que fosse sempre na dor, e ao mesmo tempo, como retratar sem ser romântico“.

Para Yasmin, os detalhes que tornam a série visceral sem ser difícil de ser assistida por pessoas negras e moradoras de favela, são essenciais. “A linguagem do ‘Amar’ está em quando eu escolho que o quarto de um garoto preto não vai ser um quarto cheio de infiltração, quando a casa de uma mulher negra não vai ser cheia de poeira. Quando eu mostro que tem outras formas de retratar essas vidas ali dentro“, explica a diretora.

A trama, que no elenco possui outros nomes de destaque como as atrizes Vilma Melo e Clara Moneke, foi produzida e está disponível na plataforma Prime Video.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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