Acontece no próximo domingo (17) a 16ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que tradicionalmente acontece sempre no 3° domingo do mês de setembro. A caminhada é organizada pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa – CCIR e o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas – CEAP.
O evento acontece na Orla da Praia de Copacabana e conta com a participação de personalidades como o Pastor Kleber Lucas, a cantora Marina Iris, Mestre Kotoquinho e o cantor Marquinhos de Oswaldo Cruz. A concentração será no Posto 5, a partir das 10h.
No decorrer de todo o trajeto terá apresentações de grupos culturais como Filhos de Gandhy, Regional do Biguá, Arca da Montanha Azul (holístico), Marcelo Vacite – União Cigana do Brasil, e de outros grupos religiosos, das 10h às 17h.
Ao longo dos anos, a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa vem chamando a atenção da sociedade civil e das autoridades públicas, para os riscos antidemocráticos, diante do crescimento dos casos de intolerância religiosa. Como bem pontua o Prof. Dr Babalawô Ivanir dos Santos, em seu livro “Marchar Não é Caminhar”, “conflitos e disputas” religiosos, nunca deixaram de fazer parte das transformações sociais. Sim, nunca deixaram porque não existe uma unicidade sobre religiões e religiosidades, seja aqui no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo.
A Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa se destaca como uma das vozes ativas na luta e pela democracia, pelo estado laico e de combate à intolerância religiosa que persiste em toda a sociedade. Ela nasceu em resposta a episódios que evidenciaram a necessidade de priorizar o respeito à fé. Nesse contexto, a CCIR se protege como um escudo essencial contra os crimes religiosos. E assim, a CCIR, passou a ser um importante instrumento de acolhimentos e denúncias dos crimes de intolerância religiosa. Única no mundo que tem em seu cerne diversos adeptos religiosos, dentre representantes do candomblé, umbanda, bases evangélicas, católicos, budistas, muçulmanos, judeus, wiccanos, hare krishnas, ciganos, mórmons, defensores dos direitos humanos e outros segmentos.
Representantes de outras regiões e estados também marcam presença, oriundos da Bahia, Minas Gerais, São Paulo e do Amazonas. A organização almeja receber em torno de 100 mil pessoas, em prol das pluralidades, humanidades, diversidade e liberdade religiosa.
“Desde que iniciamos o projeto Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, uma pergunta sempre aparece, quais as motivações para os ataques de intolerância religiosa contra as religiões de matrizes africanas?”. Obviamente, não temos como dar uma resposta pronta e acabada sobre os casos de violência. Mas podemos pontuar que existe um silenciamento por parte dos órgãos de segurança públicas de administração municipal e estadual sobre os fatos, o Brasil não é um país laico”, questiona o Prof. Dr. Babalawô Ivanir dos Santos.
Como surgiu o ato
Sem bandeiras políticas ou partidárias, a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, surgiu no ano de 2008, em reação aos episódios de intolerância religiosa que aconteceram no Morro do Dendê, na Ilha do Governador. Na ocasião, adeptos das religiões de matriz africana foram expulsos da comunidade pelo traficante Fernandinho Guarabu, que, na época, comandava o tráfico local e os impedia de usar suas vestes religiosas e seus fios de conta. Destarte, após diversas manifestações públicas, em defesa das liberdades religiosas e dos direitos de cultos pessoais, ligados às diversas confissões religiosas, defensores das diversidades e membros de grupos sociais passaram a se unir e reunir, anualmente, para em prol da tolerância, da equidade e da pluralidade, para que, juntos, passassem a realizar o maior evento inter-religioso do Brasil.
Infelizmente, ainda surgem novos casos em todo o Brasil, no dia 17 de agosto, a sacerdotisa do candomblé, líder quilombola e da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), foi brutalmente assassinada dentro da associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, Bahia.
Em 21 de janeiro de 2000 yalorixá Gildásia dos Santos e Santos, Mãe Gilda de Ogum, sacerdotisa do Ylê Axé Abassá de Ogum, localizado na localização nas imediações da Lagoa do Abaeté, bairro de Itapuã, Salvador (BA), teve infarto fulminante após ver sua fotografia estampada no jornal Folha Universal, associada a uma comprometedora reportagem sobre charlatanismo, sob o título: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”.
“Lá se vão 16 anos desde a ousada decisão de tornar público o trabalho de desconstrução de preconceitos milenares, liderado por Mãe Fátima Damas e Babalawo Ivanir dos Santos. E, nesses anos houve, sem dúvida, progresso substancial. Mas será suficiente? Infelizmente não. Todo dia surgem novos casos de agressões físicas ou verbais, depredações, profanação de locais sagrados. O número de casos quintuplicou ano passado e, neste, são notícias diárias, de Norte a Sul”, declarou Diane Kuperman / Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro – ARI.
O II Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe, revela uma nefasta política de extermínio e silenciamento. Organizada pelo CEAP e pelo Observatório de Liberdades Religiosas (OLIR), com apoio da Representação da UNESCO no Brasil, lançado em janeiro de 2023, traz dados alarmantes sobre o crescimento do discurso de ódio. Uma média de 3 denúncias de intolerância religiosa por dia em 2022. E nada mudou de lá para cá, e ainda aumentou. Organizado pelo Prof. Doutor Babalawô Ivanir dos Santos (Prof. e Orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ (PPGHC/UFRJ), Coordenador do Observatório das Liberdades Religiosas do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (OLR/CEAP), em parceria com o professor mestre Bruno Bonsanto Dias – Doutorando em População, Território e Estatísticas Públicas – PPG/ENCE/IBGE, e o Prof. Luan Costa Ivanir dos Santos, mestrando pela FEBF-UERJ- Caxias no Programa Pós-graduação em Educação, Cultura e Comunicação e Pesquisador do OLR/CEAP (https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000384250)
Vilipêndios, ofensas cometidas ao sagrado, assassinatos, violências físicas, morais e psicológicas direcionados aos praticantes de diferentes crenças, acontecem no dia a dia. E unidos, de mãos dadas, religiosos e simpatizantes participaram dessa caminhada, que representa uma força determinante para a construção da diversidade religiosa, não pelo respeito, mas também que seja valorizado o credo.
16ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa
Local: Orla de Copacabana
Dia: 17 (domingo) de setembro – Das 10h às 17h Logística
Concentração no Posto 5, a partir das 10hAvenida Atlântica, pista de lazer, em frente aos números 3.628 e 3.604, esquina com a Rua Sá Ferreira.
Saída da Caminhada, a partir das 13h Segue até Praça do Lido, finalizando às 17h