Burkina Faso, que luta contra insurgência jihadista desde 2015, expulsa jornalistas franceses

burkina

Combatentes voluntários da VDP em Burkina Faso (Foto: reprodução/Facebook)

O Burkina Faso expulsou de seu território os correspondentes dos jornais franceses Le Monde e Libération, segundo informação da imprensa francesa neste domingo (02). Esta é a mais recente medida da Junta militar do país contra os meios de comunicação franceses.

O país africano testemunhou dois golpes no ano passado e continua a lutar contra uma insurgência jihadista que se espalhou do vizinho Mali, em 2015. No início deste ano, o governo francês acatou a determinação de Burkina Faso e retirou suas tropas do país africano. Paris mantinha entre 200 e 400 membros de suas forças especiais por lá, parte da Operação Barkhane de combate ao extremismo no Sahel.

A violência descontrolada gerou uma crise humanitária que forçou mais de dois milhões de pessoas a fugir de suas casas, com milhares de mortes ligadas ao conflito.

“A nossa correspondente no Burkina Faso, Sophie Douce, foi expulsa do país… ao mesmo tempo que o colega do Libération, Agnes Faivre”, anunciou o vespertino Le Monde.

As autoridades convocaram as duas jornalistas na noite de sexta-feira (31) e deram 24 horas para que elas deixarem o país. As duas correspondentes francesas desembarcaram em Paris na manhã deste domingo.

burkina
Combatentes voluntários da VDP em Burkina Faso (Foto: reprodução/Facebook)

LEIA TAMBÉM: Kamala Harris anuncia impulso comercial na Tanzânia durante turnê pela África

Sophie Douce e Agnès Faivre receberam ordens de deixar Ouagadougou no sábado (01) sem serem notificadas de qualquer motivo para expulsão.

Na última semana de março, a junta no poder no Burkina Faso ordenou a suspensão da difusão do canal de televisão internacional France 24. A decisão veio depois da transmissão de uma crônica sobre o responsável do ramo norte-africano da Al-Qaeda. Um comunicado do porta-voz do governo do Burkina Faso acusou o canal francês oferecer “um espaço de legitimação das acções terroristas e dos discursos de ódio de forma a confortar as intenções malignas dessa organização [Al Qaeda do Magrebe Islâmico, AQMI] no Burkina Faso“.

A France 24 condenou a decisão. O canal tinha divulgado as respostas escritas de Abu Youssef al-Annabi às perguntas do jornalista e especialistas das questões jihadistas da France 24, Wassim Nassr. Para além disso, a crónica tratava, entre outros, de confirmar que o refém francês Olivier Dubois, entretanto libertado, tinha sido detido pelo ramo norte-africano da Al Qaeda. 

Em Dezembro, o Burkina Faso já tinha ordenado a suspensão da difusão da Radio França Internacional, do mesmo grupo mediático que a France 24, e ambos estão também suspensos no Mali, país vizinho governado por uma junta militar. 

O que acontece em Burkina Faso?

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de facções da Al-Qaeda e do Estado Islâmico (EI), insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. Grupos armados lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de tropas estrangeiras.

Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país, com cerca de 40% do território nacional fora do controle do governo central. Burkina Faso superou Mali e Níger como epicentro da violência jihadista na região.

O pior ataque extremista já registrado em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho de 2021, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadirem a vila de Solhan, no norte. Na ocasião, 160 pessoas morreram.

Após um período de relativa calmaria, a violência aumentou no último ano após a tomada do poder no país por uma junta militar em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que vinha enfrentando protestos pela forma como lidou com a sangrenta insurgência jihadista. Mais tarde, em setembro, um segundo golpe levou a nova mudança no poder, com Traoré assumindo o governo central. A instabilidade só faz crescer o problema da insurgência.

Para especialistas, os extremistas decidiram aproveitar a divisão pública no país.

A situação tornou ainda mais delicada em 2023, após a França acatar um pedido do governo central burquinense e retirar suas tropas da nação africana.

Estima-se que quase cinco milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar em Burkina Faso, três milhões delas no estágio agudo.

0 Replies to “Burkina Faso, que luta contra insurgência jihadista desde 2015, expulsa jornalistas franceses”

Deixe uma resposta

scroll to top