O Brasil tem enfrentado um aumento no número de estelionatos. Nos últimos 6 anos, os relatos desse tipo de crime dispararam em mais de 400%, conforme as informações divulgadas na última semana. Um dos golpes mais frequentes é o que envolve a utilização de maquininhas, apresentando uma nova abordagem: golpistas se passam por taxistas para ludibriar os passageiros. A matéria foi veiculada no programa Fantástico, no último domingo, e mostra como esse esquema opera.

As câmeras de segurança revelam um padrão: o veículo para e o passageiro, distraído ou apressado para chegar no seu destino, é facilmente enganado. O motorista que dirige o suposto taxi é, na verdade, um criminoso. Ao final da corrida, na hora do pagamento, o falso taxista afirma que a maquininha não aceita o método de pagamento PIX, e solicita o cartão físico, sem a utilização de aproximação.
As vítimas comumente não percebem nada de estranho, recebendo depois o extrato de suas contas esvaziadas ou compras que não realizaram. Isso ocorre porque o motorista entregou uma maquininha manipulada, que registra a senha informada pela vítima.
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Foi o que aconteceu com a aposentada Nunzia Caruso, em São Paulo. “Ele falou: ‘Eu prefiro que a senhora me pague com o cartão’. Ele me deu a máquina, eu digitei. Aí ele pegou a maquininha, o cartão, e ficou pra lá e pra cá com a maquininha. Ele falou: ‘É, não tem sinal'”, disse ela. Minutos depois, Nunzia recebeu uma mensagem de compra no valor de R$ 4.900. Ao tentar bloquear o cartão, percebeu que estava com outro nome. “Ele trocou meu cartão, me deu de outra pessoa, e ele ficou com o meu.”
Enquanto finge ter problemas de conexão, os golpistas memorizam as informações da vítima, e em um momento de distração, trocam o cartão por outro. As transações realizadas pelos criminosos chegam a até R$ 17 mil. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública estima que o golpe da maquininha tenha gerado um prejuízo de R$ 4,8 bilhões em apenas um ano. Thales Bretas, médico e viúvo do humorista Paulo Gustavo, também foi uma das vítimas, junto a uma amiga em um táxi falso, no Rio de Janeiro.
“Quando a gente estava chegando no restaurante, o taxista começou a falar: ‘O carro ferveu, desce do carro porque ele pode explodir.’ Era tudo uma encenação”, relatou. O criminoso usou uma maquininha sem visor, com a tela no celular. “Ele ainda falou assim comigo: ‘Não aceita cartão por aproximação, tem que ser o cartão físico.'” Thales só percebeu o golpe ao receber um SMS com a confirmação de uma compra cujo o prejuízo chegou a R$ 4.215.

em cerimônia de casamento. Foto: G1
Casos assim são cada vez mais comuns. “Se anteriormente as organizações precisavam se dirigir a um caixa eletrônico para tentar conseguir R$ 50 mil, R$ 100 mil, hoje a possibilidade de alcançar um valor dessa natureza, eles conseguem aplicando três, quatro golpes ao longo de um dia, com risco muito mais baixo de ser pego e responsabilizado pelo nosso sistema de justiça”, explicou David Marques, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Os roubos, por outro lado, diminuíram em 51% no mesmo período. A tecnologia, que deveria oferecer mais segurança, acabou se tornando uma aliada dos criminosos. “Quando surge uma nova tecnologia, no mesmo dia, no máximo no dia seguinte, vai ter alguém interessado em saber das vulnerabilidades dessa nova tecnologia”, disse Marques. Segundo ele, há cursos e sites que vendem dados pessoais e ensinam como aplicar golpes com maquininhas.
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Em uma ocorrência no Rio de Janeiro, uma passageira vigilante colaborou com as autoridades, contribuindo para a captura de Daniel de Souza Alves, acusado do mesmo tipo de fraude. Ele foi apreendido em flagrante e formalmente acusado de estelionato. Thales Bretas identificou o criminoso após assistir a uma reportagem na televisão.
Para se resguardar, a orientação das autoridades é optar pelo uso de táxis por aplicativo. Outra alternativa é embarcar em pontos devidamente regulamentados, onde os motoristas são cadastrados. Além disso, sempre que possível, é mais viável utilizar o Pix ou cartões que permitam pagamento por aproximação.