O espetáculo ‘Bom Dia, Eternidade’, do coletivo O Bonde, chega ao Festival de Curitiba para duas apresentações na Mostra Lucia Camargo, nosse domingo (30), às 19h, e na segunda-feira (31), às 20h30, no Teatro da Reitoria. A peça traz uma abordagem sensível sobre o envelhecimento da população negra no Brasil.
Em cena, quatro atores – Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves – dividem o palco com quatro músicos com mais de 60 anos: Cacau Batera (bateria), Luiz Alfredo Xavier (violão e contrabaixo), Maria Inês (voz) e Roberto Mendes Barbosa (piano). Juntos, eles misturam ficção e memórias reais para contar uma história marcada por afetos, lembranças e música.

A peça narra a trajetória de quatro irmãos idosos que, após quase sessenta anos, recebem a restituição do terreno de sua antiga casa, de onde foram despejados na infância. O reencontro os leva a uma profunda reflexão sobre o tempo, entrelaçando memórias e sonhos em um jogo de cortinas que revela um mosaico de histórias embaladas pela melhor música brasileira do século XX.
“Ainda que seja uma peça solar e musical, Bom Dia, Eternidade fala sobre a velhice negra e o direito de envelhecer, apontando para outras questões sociais fundamentais”, destaca o dramaturgo Jhonny Salaberg.
Trilogia da Morte
O espetáculo encerra a Trilogia da Morte, resultado de uma pesquisa de seis anos do grupo O Bonde sobre a necropolítica imposta aos corpos negros. O ciclo teve início com o espetáculo infantil Quando Eu Morrer, Vou Contar Tudo a Deus, seguido pela peça adulta Desfazenda – Me Enterrem Fora Desse Lugar. A pesquisa investiga como a sociedade marginaliza os corpos negros, determinando sua relação com a morte, seja física ou simbólica.
Com direção de Luiz Fernando Marques (Lubi), dramaturgia de Jhonny Salaberg e direção musical de Fernando Alabê, Bom Dia, Eternidade promove um diálogo entre gerações, refletindo sobre quais corpos têm o direito de envelhecer no Brasil e sob quais condições sociais. No palco, atores e músicos estabelecem uma troca que resgata a ancestralidade e a potência da arte negra brasileira.
Além das memórias e reflexões, o espetáculo traz interpretações ao vivo de grandes nomes da música negra brasileira, como Djavan, Tim Maia, Jorge Aragão, Jorge Ben Jor, Lupicínio Rodrigues e Johnny Alf, além de composições autorais que costuram o fio dramatúrgico da montagem. Um espetáculo musical emocionante, que revisita o passado para lançar um olhar crítico sobre o presente.
A Mostra Lucia Camargo no Festival de Curitiba é apresentada por Petrobras, Sanepar – Governo do Estado do Paraná, Prefeitura de Curitiba e CAIXA Cultural, com patrocínio de Copel – Pura Energia, ClearCorrect – Neodent, Viaje Paraná – Governo do Estado do Paraná, CNH Capital – New Holland e EBANX, e realização do Ministério da Cultura, Governo Federal – Brasil União e Reconstrução.
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