“A substituição do arroz e feijão por alimentos ultraprocessados é um reflexo da insegurança alimentar e nutricional”, afirma especialista.

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O combinado de arroz e feijão é uma marca registrada na culinária brasileira e por muito tempo essa dupla de alimentos era a base do prato da população, o que tem mudado segundo revela pesquisa da Embrapa e de institutos do mercado, o consumo dos dois grãos atingiu, em 2025, os menores índices desde os anos 1960.

Segundo Renata Machado, Coordenadora Geral do Sistema Integrado de Alimentação da UFRJ, que também atua na área de segurança alimentar, alguns fatores podem estar contribuindo para essa queda como as questões da vida moderna e a criação do hábito de comer fora de casa. Renata alerta para o marcador social nessas mudanças que podem agravar situações alimentares da população “Uma das possibilidades é que algumas refeições, em especial a ultraprocessadas tem um menor custo para a população mais vulnerável e tem sido usadas para substituir o arroz e o feijão, o que agrava a situação de insegurança alimentar e nutricional para esses grupos que são compostos em sua grande maioria por pessoas negras e mulheres.”

O consumo de arroz e feijão na casa dos brasileiros está diminuindo
Foto: Freepik

O consumo de arroz e feijão na casa dos brasileiros está diminuindo de forma gradual, segundo dados em 1985 o consumo médio per capita de arroz era de 40 kg; já em 2023, era de cerca de 28 kg. O feijão seguiu a mesma curva: de 19 kg per capita para 12,8 kg. Renata Machado diz que a mudança nos hábitos alimentares, precisa ser revertida: “Essa tendência de redução de consumo de arroz e feijão vem sendo demostrada a algum tempo nas pesquisas, uma tendência histórica que vem na contramão de uma alimentação adequada e saudável. A redução no consumo desses alimentamos reflete uma queda na qualidade alimentar, o que é um indicador negativo, por isso é necessário reverter essa tendência. ”

Sem tempo para cozinhar

Alguns dos fatores que podem ter motivado a redução no consumo do arroz e feijão é a falta de tempo para preparar as refeições e a busca por alternativas mais fáceis como marmitas congeladas, fast food ou lanches rápidos virou uma prática entre a população. Prática essa sendo vivida fortemente pela população mais pobre, que em meio a uma rotina de trabalho intensa com um deslocamento que em média leva cerca de 2h, comer algo no caminho virou quase a única opção.

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Para Renata Machado a solução para reverter esse quadro de redução de consumo de alimentos nutritivos passa por várias dimensões “Medidas que melhoram a segurança alimentar e nutricional tem várias camadas, a uma necessidade de melhoria de trabalho, de renda, melhorias na condição de vida. Além de políticas de promoção de estímulo ao consumo de alimentação saudável.”

Novas dietas

Outra tendência que tem sido observada é que hábitos saudáveis tem ganhado muita espaço nas redes e na vida das pessoas, além da estetética de corpos com baixo teor de gordura, o que faz com que especialmente os mais jovens se adaptem a dietas com baixo carboidratos, com foco em proteínas e menor consumo de grãos.

Renata afirma que o arroz e o feijão são altamente nutritivos e que a combinação da dupla deveria estar na alimentação da população “A combinação de arroz e feijão é perfeita, são alimentos naturais com proteínas de alto valor biológicos, extremamente saudáveis. A recomendação é que as pessoas continuem consumindo esses alimentos de forma regular. ”

Layla Silva

Layla Silva

Layla Silva é jornalista e mineira que vive no Rio de Janeiro. Experiência como podcaster, produtora de conteúdo e redação. Acredita no papel fundamental da mídia na desconstrução de estereótipos estruturais.

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