A cor púrpura: um musical sobre racismo, feminismo e amor

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Crédito: Carlos Alberto Costa

Arrebatador! Essa é uma palavra que pode ser usada tranquilamente para falar sobre o musical “A cor púrpura”, que estreou na última sexta-feira na Cidade das Artes, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Adaptação do livro homônimo escrito por Alice Walker, lançado em 1982 e que rendeu à autora um prêmio Pulitzer – o primeiro para uma escritora negra -, o espetáculo encanta e emociona não só pelo texto como também pelo cenário e iluminação, que fazem toda a diferente.

O musical, encenado por 17 atores negros, é dividido em dois atos. No primeiro, embalado por melodias gospel, o público mergulha na vida de Celie (Leticia Soares) e de todos que estão ao redor da personagem principal. São seguidas cenas de violência física e psicológica, como quando seu segundo filho é tirado pelo pai dela, o avô da criança, e também quando ela ouve de Albert (Sergio Menezes), seu marido, que é “pobre, feia, preta e mulher”.

Crédito: Carlos Alberto Costa

Ainda no bloco inicial também chamam a atenção a reprodução da violência física na construção de afetividade entre a população negra ali representada e a questão da masculinidade negra, que aparece na fala do pai de Albert (Jorge Maia): ele lembra que nasceu como escravo nas terras que a família atualmente mora e que o filho tem a obrigação de cuidar do que foi conquistado.

Crédito: Carlos Alberto Costa

O gancho para o segundo ato é quando Celie descobre uma mentira do marido e se reconhece como mulher. A musicalidade muda, passando para algo mais pop, apesar de ainda conversar com a música gospel. O discurso feminista insurgente fica ainda mais evidente tanto visualmente, as mulheres passam a usar calça, quanto no texto: “Se Deus ouvisse uma mulher pobre e preta seria muito diferente”, diz Celie.

É neste segmento que o encontro ou o resgate com a ancestralidade africana acontece, numa das inúmeras cenas impactantes do musical, que termina com uma celebração à mulher, resistência e ao amor. Amém!

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