Uma das personagens da campanha da fragrância La Vie est Belle, da Lancôme, a escritora, filósofa e ativista Djamila Ribeiro falou com o Notícia Preta sobre o que propõe a ação: felicidade. A autora de livros de temáticas importantes como o “Pequeno manual antirracista” e “Quem tem medo do feminismo negro?” enfatiza a importância de falar sobre o bem-estar e a alegria do povo negro, diante tantas dificuldades.
“Sou fruto da população que inventou o samba de roda, que mesmo com os restos do porco inventou a feijoada. Minha mãe era sobrecarregada tendo que sozinha dar conta de tudo e só conseguia isso sendo muito brava com a gente. Mas era a mesma que chegava em um samba de fundo de quintal à noite e sorria como uma criança. Sou filha da população que cruzou o Oceano em condições inomináveis de desumanidade, mas que trouxe junto consigo a gargalhada de Exu. Então, para mim, falar sobre felicidade também é falar sobre a história do meu povo”, explica Djamila.
A filósofa, que enfatiza o poder da população negra que mesmo diante as violências, sempre encontrou maneiras de manter a felicidade, também diz o quanto esse sentimento tão importante foi sistematicamente negado ao longo dos anos.
“Sendo uma mulher negra retinta nascida nos anos 80, não foram poucas vezes que o direito à felicidade me foi negado. Foi negado à minha mãe, à minha avó e a outras que foram atravessadas pelo racismo e machismo em um país que se recusou por séculos a ver isso como um problema. Porém, assim como elas, penso que essa negativa não é, de forma alguma, definitiva”, diz Djamila Ribeiro.
Em um vídeo em que aparece estrelando a campanha, a filósofa que é a primeira pessoa negra a ocupar uma cadeira da Academia Paulista de Letras (APL), fala sobre a dificuldade que teve em se sentir bonita, e como aprendeu em ver beleza nela e nas pessoas que se pareciam com ela. Hoje, essa campanha não é a primeira do ramo que Djamila Ribeiro faz.
Mas segundo ela, fazer parte dessa ação foi especial pela proximidade com a sua realidade e vida pessoal. “Participei da campanha do La Vie Est Belle, o meu perfume favorito desde sempre. Tanto que quando chegou o pedido para participação na campanha eu fiquei muito feliz porque, para mim, só faz sentido a campanha que converse com a minha vida”, explicou Djamila.
Mas para ela, o que também lhe chamou atenção foi o conteúdo da campanha e a proposta dela. “Eu penso que a mensagem foi muito legal, transmite a ideia de leveza, da mulher dona de si e a enxergar a beleza em mim. E, finalmente, o ensaio foi uma delícia de fazer, com uma equipe incrível. Então, eu adorei”, conta.
Com a energia criada pela campanha, surge uma reflexão: o que faz Djamila Ribeiro feliz hoje em dia? A escritora e acadêmica responde essa questão destacando que enxergar o que lhe faz feliz não significa não sentir tristeza e também “aceitar a derrota de algumas batalhas”, e que olhar para a leveza do belo, foi uma escolha que fez há algum tempo.
“Faz algum tempo que fiz a escolha de enxergar o belo para contrapor a aspereza da vida, como um antídoto contra a amargura do mundo. Para mim, isso significa contemplar o mar, sair do celular, revisitar um livro marcante, deixar a alegria tomar conta quando uma borboleta me visita, quando eu encontro um filme que adoro zapeando na televisão. Gosto do cheio de terra após dia de chuva, de tomar um banho de cachoeira”, conclui Djamila Ribeiro.
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