Festival de Dança “O Corpo Negro” do Sesc RJ apresenta atividades idealizadas por artistas negros

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Até o dia 28 de maio, o público de diversos municípios do Rio de Janeiro poderá acompanhar a rica programação do Festival de Dança “O Corpo Negro”, idealizado e realizado pelo Sesc RJ. Com entrada gratuita, a terceira edição do evento conta com projetos produzidos e apresentados exclusivamente por artistas negros, que levam à população muita cultura e entretenimento.

Além do Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Nova Friburgo, Petrópolis e Barra Mansa também recebem as 132 atividades culturais, que não se limitam apenas aos espetáculos, mas contam também com oficinas, intercâmbios, debates, concertos musicais e sessões de cinema, também gratuitos. A programação do Festival estreou em 29 de abril, Dia Mundial da Dança.

Espetáculo “Manifesto Elekô”, da Cia.de Dança Clanm – Foto: Fernando Souza

A maior parte das apresentações do festival é inédita, com exceção de “Motiró”, da Cia.Favela, e do
“Manifesto Elekô”, da Cia.de Dança Clanm, dirigida e coreografada por Fábio Batista, que vai se apresentar no Sesc Copacabana, de 25 a 28 de maio, às 20h, no Teatro de Arena.

O artista conta que a produção foi baseada em Obá, orixá pouco cultuada no Brasil, mas considerada uma das mais guerreiras entre as demais orixás guerreiras do panteão yorubano, e na sua relação com os problemas que as mulheres negras contemporâneas enfrentam.

“O espetáculo pretende falar dessas dores que são excluídas do debate”, diz Fábio, que conta que, por ser homem, desenhou a história de um lugar de observador – já que veio de uma família matriarcal – mas que, por isso, teve a colaboração da atriz e diretora Fernanda Dias para levar o olhar feminino para o palco.

“Espero que o público se emocione e se sensibilize, pois queremos passar pelo diálogo do corpo e da
intelectualidade também. Queremos ainda o debate com o público, porque vemos que a plateia fica muito feliz ao perceber tantas potências negras no mercado de trabalho fazendo arte com qualidade”
, acrescenta o coreógrafo.

O artista ressalta a importância de participar do Festival de Dança “O Corpo Negro”, que conta com 200 profissionais negros diretamente envolvidos nas atividades, e que permite à população negra ter acesso a narrativas que falam sobre sua herança.

“A nossa participação no ‘O Corpo Negro’ do Sesc RJ eu considero como um rito de passagem do espetáculo, pois ele conquista um lugar de representatividade já que o festival se configurou como um espaço de oportunidade e visibilidade para a cultura negra”, conclui Fábio.

Fábio Batista é um dos coreógrafos do espetáculo Foto: Fernando Souza

Segundo André Gracindo, analista técnico de Artes Cênicas do Sesc RJ, essa não é a primeira vez que um evento cultural é direcionado à população negra, mas afirma que, ainda assim, poucas coisas mudaram com relação ao racismo estrutural e que, por isso, o Sesc RJ entende a importância de continuar debatendo e incentivando esse tipo de ação que pode provocar mudanças.

“O festival surge dentro dessa trajetória histórica. Ele é uma ação que se conjuga com outras ações que já foram feitas e que pretendemos manter para dar continuidade às discussões no âmbito da equidade dentro da cultura, mais especificamente, da dança. O projeto é pensado em termos de empregabilidade, de construção de imagens afirmativas da população preta, de obras que reflitam o pensamento dos artistas pretos”, conta André.

O analista também explica que o edital público “O Corpo Negro”, lançado no ano passado, foi o processo que selecionou os artistas para o festival de dança pela primeira vez após três anos de evento.

“A seleção foi feita por um corpo de jurados que trabalhou dentro da banca de comissão de seleção. Criamos uma comissão interna do Sesc RJ e outra, externa, com artistas, professores, agentes culturais e pesquisadores do setor criativo, que fizeram a avaliação dos projetos”, explica.

André conta que a receptividade não podia ser melhor: “O retorno tem sido bastante positivo no sentido de pensar a dimensão do impacto positivo, do desejo, do crescimento e do desdobramento do festival. O Sesc RJ pensa sempre em ações que tenham continuidade ao longo do tempo”, detalha, acrescentando que novas linhas de seleção já estão sendo pensadas para um próximo edital.

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Mais sobre o Festival de Dança “O Corpo Negro” do Sesc RJ

O festival de dança abriu a terceira edição no Sesc Copacabana, com a performance “Ará Dudu”, de Aline Valentim, Drika Rodrigues e Valéria Monã – uma homenagem ao casal Carlos Negreiros, músico e líder da Orquestra Afro-Brasileira, e da bailarina e coreógrafa de dança afro, integrante do balé de Mercedes Baptista, Isaura de Assis. A estreia também contou com o show Mãe África, de Awurê.

O encerramento de “O Corpo Negro” será no próximo dia 28, a partir das 14h, na Praça Mauá, com show do cantor Xande de Pilares, às 19h. A programação inclui uma Feira de Empreendedores. E para quem quer curtir o festival, ainda dá tempo.

Aqui vão duas sugestões: A produção “Vala: corpos negros e sobrevidas”, com a Cia. Sansacroma, se apresenta do dia 18 a 21 de maio, no mezanino do Sesc Copacabana, às 20h30. Já o espetáculo “Iyamesan”, de Luna Leal, sobe ao palco entre 18 e 28 de maio, também no Sesc Copacabana, na sala Multiuso, às 19h.

Para acompanhar a programação completa do festival de dança, acesse o site oficial do evento. O mesmo link pode ser usado para fazer a retirada antecipada dos ingressos, que é obrigatória, já que os espaços possuem lotação limitada.

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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