Adriana Pereira Santiago (32), gerente do restaurante Mariposa, no Pelourinho, em Salvador (BA), denunciou um episódio de preconceito racial. O caso teve inicio quando Maria Angelica Guedes (64) almoçava no restaurante com o marido e as duas filhas, pediu para falar com a gerente do estabelecimento pois queria reclamar da qualidade do azeite que era servido.
“Eu fui até a mesa, me apresentei e perguntei como poderia ajudar. Ela disse que aquilo não era azeite e questionou o porquê de estarmos servindo. Eu disse que iria ver com o fornecedor o que havia acontecido e me desculpei”, diz Adriana Pereira, que em seguida voltou para o caixa do restaurante porque substituía uma colega que estava de folga naquele dia.
Adriana ainda relata “Quando eu voltei para o caixa, ela levantou e disse que sabia que eu tinha a enganado. Ela disse que eu ‘não era gerente coisa nenhuma por ser preta’. Ainda perguntou onde estava o documento que comprova a minha função”.
Após as falas, a vitima se dirigiu até uma guarnição da Polícia Militar localizada próximo ao estabelecimento, no Largo Terreiro de Jesus, para denunciar o crime. Enquanto isso, Maria Angélica já estava do lado de fora com a família quando outras pessoas começaram a se aproximar para acompanhar o que estava acontecendo. Cerca de 30 pessoas, entre turistas e comerciantes locais, assistiram a cena e gravaram vídeos.
Em um dos vídeos que foram gravados é possível ver que Maria Angélica se aproxima de Adriana e diz “Você tomou isso como algo pessoal” e o marido da mulher, que agora é investigada, também aparece revoltado com a guia que os acompanhava dizendo “Vai estragar o nosso passeio aí. Você vai me abandonar na delegacia?”, questiona o homem.
Adriana Pereira ainda está muito abalada com o episódio ocorrido no final de semana. As cenas e as falas não saíram da cabeça da gerente, que trabalha atendendo turistas há um ano e meio no local e nunca havia passado por nada parecido. “Eu me sinto diminuída. Nós, pretos, para ela, não podemos estar em posição de destaque seja ela qual for. Isso dói muito e a sensação é de impunidade. Eu não quero ser só mais uma vítima, por isso que eu falo”, desabafa.
Mesmo a vítima tendo ido denunciar o crime no ato, a prisão em flagrante não ocorreu e a Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar o ocorrido.
Pronunciamento do Movimento Negro Unificado
Em nota, o Movimento Negro Unificado de Salvador diz: “Nós, Movimento Negro Unificado de Salvador, fomos surpreendidos com mais um caso de racismo em Salvador. O caso absurdo de racismo, ocorrido em um restaurante no pelourinho, no dia 23 de Abril de 2023, é uma evidência chocante da persistência do racismo na nossa sociedade brasileira. Não ironicamente, nas ruas do nosso Pelourinho, local histórico de violência a população negra mais um caso de racismo foi televisionado e a racista saiu impune”
Além do Movimento Negro Unificado de Salvador (MNU), colegas de trabalho e outros comerciantes do Pelourinho também se solidarizaram com o ocorrido e permanecem inconformados com o fato de a acusada ter sido liberada logo após o registro do boletim de ocorrência. A prisão em flagrante acontece quando uma pessoa é detida no momento do crime ou logo em seguida. Porém, na prática, a decisão pela configuração ou não do flagrante depende da autoridade policial responsável.
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