Neste domingo (23), comemora-se o Dia Mundial do Livro. Mas quando fazemos um recorte racial sobre a temática, focando na literatura negra brasileira, dados apontam que a representatividade literária ainda é baixa. Segundo uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), quando se trata de romancistas atuais, as pessoas negras aparecem pouco como autores.
Com base nos dados das principais editoras do país, no período entre 1965 e 2014, o estudo aponta que 70% dos autores brasileiros são homens e desse total, 90% são brancos. É o que destaca a pesquisa.
Logo, os autores retratam personagens que são bastante semelhantes a eles na vida real. A grande maioria dos protagonistas são homens (60%), brancos (80%) e heterossexuais (90%).
Quando personagens negros aparecem nas histórias — fato que ocorre em apenas 6,2% dos romances publicados entre 2004 e 2014 — a maioria deles (4,5%) é protagonista. Porém, muitos são representados de maneira estereotipada como bandidos, empregados domésticos, escravos, profissionais do sexo e donas de casa. Esse último dado são de obras publicadas entre 1990 e 2014.
A literatura afro-brasileira
O grupo Literafro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) indica que a literatura afro-brasileira é um conceito em desenvolvimento. No entanto, geralmente inclui textos que enfatizam temas, autores, linguagens e perspectivas culturalmente relacionadas à afrodescendência, tanto no início como no final da obra.
De acordo com a Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, fica estabelecido que a rede oficial de ensino obrigatoriamente inclua em sua grade curricular a História e Cultura afro-brasileira.
Segundo o relato disponível no portal Afroeducação, do educador Celso Nogueira Pardinho, a questão da prática e legalidade, não conversam por ser limitado. Assim, expõem que não tem como defender uma edução anti-racista ao se trabalhar com uma material colonialista. Pardinho propõem um movimento inverso para desconstruir e construir outras potencialidades e possibilidades que a Lei apresenta.
Representatividade literária: obras de autores negros
No Brasil ainda existe escassez de representatividade literária nas bibliotecas. Mas apesar da pouca representatividade, há presenças históricas fundamentais. Trata-se de escritores atemporais com significativo legado para a cultura literária brasileira.
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Machado de Assis
Nascido em 1839 no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro (RJ), Joaquim Maria Machado de Assis começou seu trabalho na literária ao publicar sonetos e folhetins em jornais cariocas. Assim, também escreveu variados poemas, crônicas e peças de teatro.
Seu primeiro livro, uma coletânea de poemas intitulada Crisálidas, foi publicado em 1864, seguido por seu primeiro romance, Ressurreição, em 1872.
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Com mais de 50 obras em seu repertório, incluindo os célebres Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899) e Memorial de Aires (1908), o escritor fundou, juntamente com José Veríssimo, a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a presidência até o falecimento.
Além de sua carreira literária, Machado de Assis exerceu cargos públicos, incluindo o Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas. Até hoje, grande parte de sua obra é leitura obrigatória nas escolas e diversos tipos de processo seletivo por todo o país.
Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus (1914-1977), é uma das escritoras mais lidas do país. Logo, é considerada uma das principais autoras negras do Brasil. Ainda recebeu o de título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela morou na Favela do Canindé em São Paulo (SP). Depois, mudou-se para a cidade durante um período de expansão das comunidades.
Escrevia em diários o seu cotidiano difícil como mãe e mulher negra, embora tenha frequentado apenas as primeiras séries do ensino fundamental. Já no ano de 1958, um jornalista visitou a favela e se interessou pela história de Carolina.
Desse modo, por meio de uma publicação no jornal e em uma revista nacional, Carolina ficou conhecida como escritora, e em 1960 ela publicou sua obra mais famosa, Quarto de despejo, que continha relatos de seus diários.
Carolina também publicou outros livros, como Casa de Alvenaria (1961), Pedaços de fome (1963) e Provérbios (1963). Isso, além de ter deixado dois trabalhos póstumos.
Conceição Evaristo
Nascida em 1946, em uma favela na zona sul de Belo Horizonte (MG), a escritora mineira trabalhou como doméstica e concluiu o ensino secundário aos 25 anos.
Em seguida, mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ), onde passou em um concurso público para o magistério e graduou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A carreira literária da escritora começou em 1990, com a publicação de trabalhos na antologia Cadernos Negros.
Em 2003, Conceição tece seu primeiro romance publicado, Ponciá Vicêncio, que foi traduzido para o inglês e lançado nos Estados Unidos cinco anos depois. As obras da autora trazem temas como: preconceito, classe, gênero e discriminação racial.
Ela lançou outros trabalhos, como o livro Poemas da recordação e outros movimentos (2008) e Insubmissas lágrimas de mulheres (2011).
Além de escritora, reforçando a representatividade literária, Conceição tem mestrado em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), doutorado em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), é ativista no movimento negro e participa de diversos eventos relacionados.
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Fonte: Gênio Criador, Jornal da USP e EBC.
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