“Reconhecer o Cais do Valongo é reconhecer a integridade do povo negro”

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Cais do Valongo, na regioão central da cidade (tomaz Silva/Agência Brasil)

Ao receber o título de Patrimônio Mundial pela Unesco o sítio arqueológico do Cais do Valongo, Zona Portuária do Rio de Janeiro, torna-se um local reconhecido mundialmente por sua importância histórica e cultural. Ele integra uma lista de mais de 750 locais de destaque no mundo como o Taj Mahal, na Índia, o Grand Canyon, nos EUA, o Machu Picchu, no Peru, entre outros, considerados como lugares de valor universal excepcional para a humanidade. O local é um representativo para a história do Brasil pois, cerca de 1 milhão de negros chegaram ao continente desembarcando no Cais do Valongo, construído em 1811 e aterrado em 1911.

Cais do Valongo recebe título de Patrimônio Mundial da Unesco. Foto: Agência Brasil/Tomaz Silva

Para Márcio de Jagun, babalorixá, professor e presidente do Conselho de Defesa da Promoção da Liberdade Religiosa do Rio, o título concedido ao Cais do Valongo significa o fortalecimento da memória do povo negro: “Essa memória mantém o homem africano íntegro, absolutamente conectado com sua história, com seus ancestrais, com sua cosmovisão. Portanto, o reconhecimento deste espaço, que é parte da história do Brasil e parte da história destes homens e mulheres que foram trazidos para cá numa migração forçada, é também o resgate e o fortalecimento desta poderosa estrutura da memória do brasileiro, do africano e da humanidade. O Cais do Valongo é uma parte determinante e integrante da absoluta integridade que precisa ser reconhecida, preservadas e valorizadas”.

Segundo a representante da Unesco no Brasil, Marlova Noleto, o título representa também a responsabilidade do Poder Público em preservar a memória e cultura afro-brasileira: “Relembrar a importância do conhecimento da história para superar a discriminação e desigualdades é fundamental e esse sítio sensível só tem comparação, em paralelo, com o sítio do Holocausto. São eventos da história e da humanidade que a lista do patrimônio mundial da Unesco ajuda a relembrar, e ao relembrar a gente pode dizer ‘nunca mais’. Nunca mais porque a humanidade não pode assistir silenciosa tamanhos atos de violação de direitos humanos, quer seja pela cor da pele ou por crenças religiosas”, disse a representante em uma entrevista à Agência Brasil.

O reconhecimento do Cais do Valongo, além de um marco histórico, também significa que o poder público terá mais verba para cuidar do sítio arqueológico. Com o tombamento, o país pode contar com recursos administrados pela Unesco para conservar o local. Em risco, ele é incluído na Lista de Patrimônios Ameaçados e recebe atenção especial da organização.

Segundo a Unesco, o Cais foi incluído na lista por atender o critério VI do Guia para a Implementação da Convenção do Patrimônio Mundial que diz respeito à ligação do local a acontecimentos e tradições vivas, ideias ou crenças, obras artísticas e literárias de significação universal excepcional. O Cais do Valongo é considerado pela Unesco como um sítio arqueológico sensível, por abrigar memórias que remetem ao sofrimento e a luta pela sobrevivência de nossos antepassados.

Atualmente, há 755 patrimônios em todo o mundo, o Brasil, com a inclusão do Sítio arqueológico do Valongo, guarda 18 deles – sete naturais e onze culturais.

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