O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou de registrar entrada de visitantes no palácio da Alvorada durante seu governo. O controle de quem entrava e saía do local se tornou bem menos rígido. Em pesquisa feita pelo jornal O Globo, através da Lei de Acesso à Informação (LAI), mostra um registro nulo ou raro de familiares, ministros e aliados durante todo o mandato.
Considerando apenas a portaria principal, os que mais entraram foram dois dos filhos políticos do ex-presidente: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), com 13 visitas, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com 12 registros. Mas, de acordo com os registros feitos nas redes sociais, as visitas foram muito maiores que esse número. Porém, as visitas dos dois, conta somente até maio de 2020.
Mesmo em reuniões de conhecimento público, os registros não foram efetuados. No dia 1º de novembro, por exemplo, Bolsonaro fez um pronunciamento sobre sua derrota nas urnas, onde convocou quase todos os seus ministros. No entanto, somente a entrada do assessor da Secretaria de Comunicação Social (Secom) foi verificada.
A planilha que conta com 4.987 registros, entre janeiro de 2020 e dezembro de 2022, tem 2.056 no portão principal e 2.931 na entrada de serviço (utilizada principalmente por funcionários). O Globo solicitou os dados desde o início do governo Bolsonaro, em 2019, mas o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) divulgou os dados apenas a partir de 2020.
Quem mais aparece, depois dos filhos, como visitante do Alvorada é Elizângela Castelo Branco, interprete de libras que participava das transmissões ao vivo semanais de Bolsonaro, e Diego Torres Dourado, irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Os dois possuem em registros feitos em 2020. Elizangela, amiga de Michelle Bolsonaro, dizia que trabalha como interprete de libras de forma voluntária.
Também tiveram visitantes com menores registros como o deputado federal Alberto Fraga (União Brasil-DF), amigo de Bolsonaro, e o advogado Frederick Wassef, ambos com quatro registros cada, e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que conta com apenas duas anotações.
Em 20 de março de 2021, o deputado federal Luis Miranda (Republicanos-DF) se reuniu com Bolsonaro no Alvorada para falar de suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin. Mesmo que o encontro tenha vindo a público, a entrada do deputado não está nos registros.
Os números de anotações foram caindo ao longo dos anos: 1.810 em 2020, 162 em 2021 e apenas 84 no ano passado. O que mostra uma falta de controle no acesso a Alvorada, como confirma ao Globo um assessor próximo de Bolsonaro. Segundo ele, após uma identificação simples na portaria, a entrada era liberada.
De acordo com especialistas, não é uma lei registrar visitas na Alvorada, mas é recomendável devido ao princípio constitucional da transparência na administração pública.
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“É recomendável (registrar as visitas), e não fazer isso é um problema. Em termos de conflito de interesses, de transparência e da própria segurança do presidente, que eles alegaram tanto proteger”, afirma Marina Atoji, diretora de Programas da Transparência Brasil.
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