Nascido em Viçosa, interior de Minas Gerais, Breno Cruz, ou Preto Gourmet, como é carinhosamente conhecido, é Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e, atualmente, é professor do Bacharelado em Gastronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFFRJ). Mas nem sempre teve esse renome e o status que uma docência traz a quem está na academia.
Como pesquisador, Breno tem uma trajetória ímpar de produção de conhecimento na Administração e atualmente na Gastronomia. É líder do grupo de pesquisa ‘Consumo, Gastronomia e Redes Sociais Virtuais’ – CNPq. Porém, sua ida para o Rio de Janeiro não foi tão glamurosa. “A vinda pro Rio foi muito mais difícil. Todo mês de Setembro eu lembro daquele feriado de 7 de Setembro de 2004 – quando, por 5 dias, comi pão com mortadela e água. Envergonhado, não pedi a ninguém ajuda – fiz o que muitos brasileiros fazem: comer o que tem”, relembra.
Ele lembra também que o maior acolhimento na sua chegada à Cidade Maravilhosa veio de uma pessoa que não conhecia. Acolhimento e amor. “Adriana Soares de Mello, assistente de serviços gerais da escolinha que eu morei durante três meses, e cada dia eu dormia em uma sala de aula diferente, não me deu somente comida; Adriana me deu e me dá afeto até hoje – é meu porto seguro sempre que preciso de amparo”, agradece.
Preconceito e Início do Mestrado
Breno conta ainda que, nos primeiros meses de mestrado na Fundação Getúlio Vargas (FGV), passou por momentos de constrangimento e preconceito. Alguns colegas de instituição disseram que ele não deveria gostar de Axé Music por não ser “cult” e a camiseta que usava “parecia uniforme de frentista”. “Fui desacreditado como muitas vezes eu havia sido, ao longo daqueles 22 anos. Foquei no mestrado e segui. Eu não poderia pensar em não prosseguir. Voltar para Viçosa não seria uma opção”, comenta.
O pós-doutorando ainda lembra que quando entrou para a universidade, em 2004, poucos eram os alunos negros e que, com a Lei de Cotas, sancionada em 2012, a realidade das instituições públicas mudou. “Como professor universitário, vi a universidade pública EMPRETECER. Cheguei na Gastronomia e me dei conta que tinha muito a ser feito em diferentes áreas – tanto na Pesquisa como na Extensão (por meio da Inclusão Social). E deu certo. E está dando certo”, comemora.
Prêmio Gastronomia Preta
Representar um blog num almoço de lançamento do novo menu de um restaurante do Guia Michelin, um dos mais conceituados do Brasil, foi o start para pensar em como fazer que outras pessoas negras pudessem frequentar espaços como o referido restaurante. Breno lembra que era o único negro na mesa. “Esta constatação me levou a iniciar o processo de buscar evidenciar as pessoas pretas na Gastronomia. Elas existem, mas ainda estão invisibilizadas em cargos de liderança ou como chefs e sub-chefs nas renomadas casas da cena gastronômica carioca”, conta.
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Breno ressalta ainda que o Gastronomia Preta ganhou uma dimensão enorme e que todo trabalho e dedicação valeu a pena. “Quando olho para trás eu penso: que bom que eu não desisti. E eu não mudaria uma linha da minha história e faria tudo de novo! Essa segurança e estabilidade que eu tenho hoje me garante o direito de ter meu sonho realizado todo ano: ser feliz em Salvador. Porque carnaval é felicidade. Carnaval é Axé”, conclui.
Sobre o prêmio
A primeira edição do Prêmio Gastronomia Preta ocorrerá no dia 28 de novembro, no Museu de História e Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB) e premiará 22 profissionais pretos, pardos ou indígenas da Gastronomia. A idealização desta premiação é do professor Dr. Breno Cruz, do Bacharelado em Gastronomia da UFRJ, que gerencia o perfil Preto Gourmet no Instagram.
O embaixador do projeto é o chef João Diamante e o evento será apresentado pelo chef confeiteiro Paulo Rocha (Iron Chef Brasil – Netflix e também do reality show de gastronomia da rede Globo, ‘Minha Mãe Cozinha Melhor Que a Sua’.
Ao todo, foram mais de 1200 indicações para as 8 categorias em que os profissionais seriam nomeados pelo público. Por isso, a organização criou a possibilidade de uma Menção Honrosa para pessoas que estão fora da cidade do Rio de Janeiro e que têm suas histórias de luta e resistência na Gastronomia.