“Se temos um inimigo abaixo da média esse é o momento de se sobrepor”’, diz Baco Exu do Blues

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Baco Exu do Blues em entrevista exclusiva para o Notícia Preta - Foto: André Gomes de Melo

Baco Exu do Blues em entrevista exclusiva para o Notícia Preta – Foto: André Gomes de Melo

Tímido, simpático e muito politizado. Este é Diogo Moncorvo, também conhecido como Baco Exu do Blues. Na última semana (01/04) o artista recebeu a equipe do Notícia Preta em seu camarim no Circo Voador, no Rio de Janeiro, onde participou do evento “Amoçambique” que arrecadou verba para as vítimas dos ciclones que atingiram o país africano.

A entrevista foi na verdade um bate-papo. Já passava da meia noite quando Baco recebeu nossa equipe e mesmo cansado sentou no sofá, olhou pra gente e sorriu como quem diz, “pode começar”. Começamos perguntando sobre a importância da participação dele em um show que tinha por objetivo arrecadar verba para nossos irmãos africanos. Entendemos de cara a visão deste artista sobre a sua arte. Para Diogo o rap tem uma função social. Baco acredita que precisamos nos organizar e efetivamente puxar nossos irmãos e irmãs, pretos e pretas.

“A cultura branca é escrota de diversas formas só que ela é muito organizada para se auto-ajudar. Quando falamos de massa numerosa, (nós negros) não temos nem o financeiro nem uma quantidade de pessoas dispostas a ajudar. Estamos bem mais preocupados em sobreviver do que de ajudar nosso próximo, de certa forma. Não que isso seja errado, pois foram as condições impostas pra gente. Precisamos usar a arte negra não só para se auto sustentar e se auto levantar, mas também como um entendimento geral de que ajudar o próximo é muito importante. Isso é muito claro pra mim que eu sou do rap e no rap tem muito essa cobrança da gente ajudar a nossa cultura ”, explica o artista.

Ajudar os nossos é fundamental principalmente no atual cenário político onde o Governo tenta de todas as formas atingir o povo preto, periférico e favelado.

Baco compara o que acontece agora no Brasil com as medidas do atual governo, que atingem diretamente os mais pobres, com a  “crise do crack” que começou nos anos 80, nos Estados Unidos. Na época, o discurso da “Guerra ao crack”, muito parecido com o atual discurso brasileiro da “Guerra às drogas”, serviu para chancelar o governo americano a tomar medidas mais repressivas e para a polícia agir violentamente. Com a permissão do governo para que a polícia fizesse o que “fosse necessário” muitas pessoas foram mortas, presas e tudo isso com a aprovação de boa parte da sociedade.

“O momento que vivemos no país agora me lembra muito a ‘crise do crack’ nos EUA. A galera foi cortando todas as formas das pessoas crescerem, sobreviverem e foi dando todos os motivos para elas desistirem da vida. Eu acho que  é exatamente este processo que está acontecendo no Brasil. Eles estão podando a gente de todos os lados e querendo dar motivos pra gente desistir da vida. O que eu acho que temos que fazer? No momento onde a maior preocupação (do governo) é tirar nossa informação e nosso conforto, a gente tem que aprender a adquirir informação mesmo sem conforto. Porque no momento em que a gente tem informação a gente é o maior inimigo deles (governo). Independente de qualquer coisa. No momento que o moleque negro de periferia sabe mais da constituição do que o próprio presidente, foda-se o presidente”, conclui Baco.

O rapper baiano de 23 anos acredita que a informação e a educação são as chaves para a mudança: “A gente está numa vantagem muito grande pois, o governo atual é burro. Ele não sabe dos fatos do nosso país, não sabe como o país funciona de fato, não sabe quais são os mecanismos. Então, se a gente tem um inimigo abaixo da média esse é o momento da gente se sobrepor”.

Roni Gomes, Sérgio Batista, Baco Exu do Blues, Thais Bernardes e Ana Paula Rocha

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