Cria de Honório Gurgel, subúrbio do Rio de Janeiro, o ator Demerson D’alvaro entrou para a história do Carnaval ao encarnar o orixá Exu no enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, que conquistou o primeiro título do Carnaval Carioca para a escola Grande Rio, nesta terça-feira (26). A proposta da agremiação foi desmistificar a divindade africana, equivocadamente associada ao diabo no imaginário cristão.
Na comissão de frente da escola, que trazia como destaque o ator personificando Exú, ele se agarrava a um grande globo vermelho, representando a Terra, no qual havia quatro oferendas. Ao chegar ao topo, Exú se deliciava com os alimentos e gargalhava a plenos pulmões. Com suporte técnico do coreógrafo Hélio Bejani, Demerson fez pesquisa de campo dos axés e estudou sobre os balés afros da Bahia. Antes de entrar na avenida, lavou as mãos com uma água de ervas para garantir proteção e abrir os caminhos.
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O ator contou em entrevista ao Globo que sua família tem representantes de diversas religiões, incluindo uma avó umbandista e mãe evangélica, mas que não frequenta nenhuma igreja ou outro templo religioso, apesar de crer em Deus. Já para o Extra, ele lembrou que já viveu caboclos e pretos velhos na avenida, além de outro Exu, na comissão de frente do Salgueiro, no carnaval de 2016.
A agremiação de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, acumulou 269 pontos pelo desfile que arrebatou os torcedores com a exibição na Marquês de Sapucaí, na madrugada de domingo (24). Para as religiões de matriz africana, Exu representa a comunicação entre os humanos e as divindades. O enredo, desenvolvido pelos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, contou com a personagem Estamira, eternizada em documentário e peça de teatro, a catadora de lixo que se comunicava com Exu através de um telefone encontrado no lixão de Jardim Gramacho.
Foi uma representação divina,maravilhosa, Grande Rio mereceu a vitória.