“Precisou de um caso George Floyd para gerar a indignação popular”, afirma sociólogo após um ano do assassinato

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Nesta terça-feira (25) completa-se um ano do assassinato de George Floyd, em Minnesota, nos Estados Unidos. Vários movimentos de ativistas pelos direitos civis de pessoas negras já existentes expandiram suas atividades e outros surgiram após sua morte.

Movimentos negros se reuniram, nos Estados Unidos, no aniversário de morte de George Floyd – Foto: Reprodução

Durante este período, os movimentos negros tiveram mais visibilidade e, principalmente, o Black Lives Matter foi um dos que mais cresceram. Para o sociólogo João Saraiva, a morte de Floyd ressaltou o trabalho dos movimentos negros, que são atuantes há séculos. “Eles vão desde o Black Lives Matter, nos Estados Unidos, que já existia há muitos anos, passando pela resistência da cultura popular brasileira como nas religiões de matriz africana e nos quilombos, com origem também histórica desde o movimento dos direitos civis da década de 60, e também os movimentos universitários pela igualdade racial nos últimos 30 anos no Brasil”, afirma.

Saraiva ressalta ainda que cada um desses movimentos tem suas peculiaridades, porém, em momentos como esse, há uma conjunção de forças para que as denúncias de fato não sejam em vão. “Para que a indignação popular tome espaço na grande mídia. Para que o debate público não se encerre com um dois dias”, enfatiza. 

“George Floyd não foi um caso isolado, mas sim um caso que ganhou repercussão porque foi visto, foi gravado e os movimentos sociais firmam esse compromisso de não se deixar esquecer, não se deixar apagar, para que não mais se repita”

Floyd e Beto

Segundo o advogado criminalista, coordenador do Instituto de Defesa da População Negra (IDPN) e membro do Movimento Negro Unificado (MNU), Djeff Amadeus, os dois casos têm ligação direta, vem de longos anos e são permeados pelo racismo, mesmo com algumas diferenças regionais. “A ligação, não obstante as peculiaridades de cada país, passa, obviamente, pelo racismo”, afirma. 

Além disso, ele ressalta que, quando pessoas negras se tornam referências em suas áreas, a sociedade começa a ter interesse. “Quando ocupamos espaços que a branquitude sempre esteve presente sem nenhuma intelectualidade e capacidade para tanto, é óbvio que a sociedade brasileira passa a ter interesse, afinal: tem um monte de pretinhas e pretinhos, muito mais preparados do que aqueles que sempre ocuparam os espaços de poder. Dizendo de uma maneira mais objetiva: não há opção de não haver interesse porque o movimento negro, de forma organizada e estratégica, pôs a luta antirracista como o tema central do Brasil”, analisa.

João Saraiva ressalta a importância da união dos movimentos negros para surtir efeito social – Foto: Arquivo pessoal

O cientista social João Saraiva lembra que o Brasil se assustou com o assassinato do Beto Freitas porque, mesmo com toda a repercussão mundial do assassinato de George Floyd, um homem negro brasileiro foi assassinado em uma cena muito semelhante à vista mundialmente meses antes. “Algo indignou o Brasil e o mundo. Estava muito recente na memória da maior parte da população. Mas se repetiu. E o paralelo principal não é esse, e sim às sucessivas violações de direitos que o povo negro está sujeito em diversos países ocidentais, e no sentido da violência policial, isso é mais marcante para os homens negros”, relembra. 

Ainda de acordo com Saraiva, mesmo sem querer, Floyd se tornou um mártir da luta negra e símbolo de várias rupturas individuais e coletivas. “A força com que as manifestações foram feitas acabou tomando um espaço extremamente relevante em noticiários, nas redes sociais. Houve espaço para um debate um pouco mais profundo que de fato foi feito em diversas oportunidades”, afirma.

Saraiva finaliza dizendo que “pode-se até dizer que foi algo ‘momentâneo’, mas acredito que o nome George Floyd simboliza muito mais do que um episódio de violência, mas sim a luta e compromisso coletivo e individual de causar mudança onde estivermos”.   

Entenda o caso

George Floyd foi assassinado pelo ex-policial Derek Chauvin, dia 25 de maio de 2020, em Minnesota, nos Estados Unidos. Na ocasião, o policial ficou ajoelhado sobre o pescoço de Floyd por mais de 8 minutos, enquanto a vítima gritava que não conseguia respirar. Toda a ação foi filmada e amplamente divulgada nas redes sociais. 

Em 20 abril deste ano, Derek Chauvin foi considerado culpado pelo assassinato de Floyd em três acusações de homicídio. Causar a morte, sem intenção, por meio de um ato perigoso, sem consideração pela vida humana, negligência ao assumir o risco consciente de causar a morte de Floyd e homicídio culposo

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