A pandemia chegou no Brasil há mais de um ano, mas ainda não se sabe muito sobre a doença. A cada mês que passa é uma nova descoberta. No entanto, cientistas já comprovaram que o coronavírus pode deixar sequelas e que se comporta de maneira muito individual em cada pessoa. A chamada síndrome pós-covid existe e dependendo da sua gravidade pode afetar a qualidade de vida, deixando marcas prolongadas.
As sequelas como consequência de uma infecção por coronavírus estão afetando a vida de muitos brasileiros, como mostrou uma reportagem da Agência Pública. Os estudos sobre o tema destacam algumas questões como a possibilidade de desenvolvimento de sintomas a longo prazo. Uma pesquisa publicada no periódico “Jama Network” demonstrou que 30% das pessoas que foram acompanhadas durante nove meses manifestaram ter sintomas persistentes. O Notícia Preta entrevistou o biofísico, virologista e membro da Equipe Halo da ONU em Covid-19 Rômulo Neris, que explicou os principais pontos do assunto.
As desigualdades sociais que estabelecem relações com fatores raciais e econômicos não impactam somente no número de óbitos da doença, como demonstraram boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde, mas também na potencialização dessas sequelas nos indivíduos. Rômulo afirma que o cenário de desigualdade no qual pessoas com maior poder aquisitivo têm acesso à saúde faz a população negra e periférica ir mais a óbito e ter sequelas associadas à infecção. Nos últimos meses, pacientes vêm reclamando da dificuldade de conseguir tratamento para sequelas no Sistema Único de Saúde (SUS) e o atendimento particular ainda é caro. O biofísico diz que conseguir assistência especializada no SUS é difícil porque o sistema é mais voltado para lidar com condições temporárias, que duram um período definido de tempo.
De acordo com Rômulo Neris, o coronavírus pode deixar sequelas de diferentes graus que podem resultar em danos muscular, perda da capacidade respiratória e impactos no sistema neurológico, por exemplo. Ele fala que os esforços hoje estão voltados para o controle do número de casos e de óbitos, mas que é importante acompanhar as pessoas que tiveram Covid-19, que estão se recuperando, porque no futuro o país pode ter um prejuízo em larga escala devido às sequelas, mesmo depois de ter atravessado a pandemia, ou seja, controlado o número de casos. “Se essas sequelas vão ser físicas ou mentais, agora é difícil de dizer porque nós estamos há um pouco mais de um ano na pandemia e o número de casos ainda está crescendo ativamente, mas em breve esse fenômeno vai ser observado”, disse.
Ministério da Saúde dá mais destaque ao número de recuperados
Desde o ano passado, o Ministério da Saúde tem dado mais foco para os números de recuperados do que para a quantidade de pessoas contaminadas e que foram a óbito, um posicionamento que vem sendo criticado por especialistas. “Esse número deveria servir como parâmetro para que indivíduos pudessem ser acompanhados com mais eficiência”, alegou Rômulo. Segundo o cientista, o número de recuperados muito alto apenas comprova que a quantidade de infectados é grande. No dia 22 deste mês, o Governo Federal publicou que o Brasil tem mais 12,6 milhões de pessoas recuperadas da Covid-19 e que esse número representa 89,5% do total dos casos acumulados (contaminados). Para o biofísico, quando o Governo Federal mostra esse cenário “positivo” não significa que ele está expondo os efeitos das suas intervenções de saúde.
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