“Manhã-Tarde da Beleza Negra”: comunidade, infâncias, território e identidade em ação em Cavalcanti, Rio

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A comunidade escolar da região de Cavalcanti, no município do Rio de Janeiro, será palco de uma série de ações que culminam com a iniciativa Manhã-Tarde da Beleza Negra. Essa atividade especial marca a culminância (ou o ponto alto) de um trabalho continuado, que se estendeu durante todo o ano, valorizando a estética, a autoestima, o pertencimento e a ancestralidade das crianças negras.

A articuladora dessas ações é a merendeira Vânia Maria de Carvalho, profissional da rede municipal de ensino, que atua na Escola Municipal Frei Leopoldo (bairro Cavalcanti) e também na Escola Municipal Espírito Santo, onde reside. Como parte do time de implementação da Lei 10.639/03, que exige o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, Vânia incorpora o território, a cozinha, a comunidade e a experiência cotidiana como palco de produção de saber. O projeto está vinculado à GERER – Gerência de Relações Étnico‑Raciais, reforçando seu viés de política educacional com recorte étnico-racial. Vânia também é membro do coletivo Quilombo Etu, que desenvolve ações de cultura popular, letramento racial e cultura.

A singularidade desse projeto está no olhar que vem da cozinha, do território, das escrevivências, e não apenas das universidades. A cozinha escolar, lugar de cuidado, nutrição e convivência, torna-se também laboratório de consciência e resistência: onde a alimentação, a cultura negra, a estética e a autoestima se entrelaçam. É um saber que se entrelaça com o chão da escola, com os banheiros, pátios, refeitórios, com a mãe, a avó, a tia, a criança que se observa no espelho e diz: “eu sou linda, eu pertenço”.

A Manhã-Tarde da Beleza Negra é a visibilidade dessas práticas, um momento coletivo de reafirmação identitária – Foto: divulgação.

“Quando a gente começa por onde a gente está (na cozinha, na escola, no bairro) entendemos que combater o racismo não é uma ação isolada: é parte da construção de uma vida digna. A comunidade escolar inteira deve estar ao nosso lado. Merendeiras, zeladoras, professoras, alunos, pais, vizinhos, todos… Porque na luta contra o racismo, o engajamento tem que ser de todos.”
— Vânia Maria de Carvalho

Esse engajamento se traduz em oficinas de cultura negra e reeducação das relações raciais que ocorrem na Escola Municipal Frei Leopoldo, bem como em outras escolas da região, de forma permanente. A Manhã-Tarde da Beleza Negra é a visibilidade dessas práticas, um momento coletivo de reafirmação identitária, mas não se esgota ali, ela representa o fio visível de uma rede de cuidado e transformação ao longo de todo o ano.

Inspirado na iconografia da Ilê Aiyê e sua Noite da Beleza Negra (evento que elege a Deusa do Ébano e exalta a estética negra)  este projeto reafirma que todas as crianças negras são vencedoras na luta contra o racismo, sem competição nem ranqueamento. Todas são celebradas, todas são reconhecidas.

Por que esse projeto importa

  • Porque a Lei 10.639/03 institui a obrigatoriedade da educação da história e cultura afro-brasileira, e iniciativas como essa traduzem essa obrigação em vivência, afetividade e identidade dentro da escola.
  • Porque o lugar de merendeira, tradicionalmente invisibilizado, torna-se protagonismo de uma estética e política racial concreta.
  • Porque fazer do espaço escolar-comunitário um local de transformação racial significa investir no futuro, no pertencimento e no bem-viver de nossas crianças negras.
  • Porque a comunidade, o território do bairro, o convívio cotidiano são palco de resistência, e o projeto opera exatamente nessa interface: o saber popular, o cuidado, a convivência, a estética, a afirmação de identidade.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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