A instabilidade política que atinge a África Ocidental desde 2020 ganhou um novo capítulo. Três dias após as eleições legislativas, a Guiné-Bissau foi tomada por militares na última quarta-feira (26), somando-se à lista de países que sofreram rupturas institucionais recentes, como Mali, Níger, Burkina Faso, Guiné, Chade e Gabão.
Tiros ecoaram em Bissau enquanto um grupo de oficiais, autodenominado Alto Comando Militar para a Restauração da Ordem Nacional, anunciava a prisão do presidente Umaro Sissoco Embaló, o fechamento das fronteiras e a suspensão do processo eleitoral. No dia seguinte, a junta nomeou o general Horta N’ta como chefe de um governo militar provisório, enquanto Embaló buscou refúgio no Senegal.

O golpe ocorre em um ambiente já marcado pela tensão. O histórico Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) foi impedido de disputar as eleições de novembro, e o país vinha de uma dissolução parlamentar em 2023, decretada por Embaló. Crises políticas, prisões de opositores e denúncias de abuso de poder já vinham fragilizando ainda mais o cenário institucional.
A Guiné-Bissau, desde sua independência de Portugal em 1974, acumula quatro golpes bem-sucedidos e diversas tentativas frustradas. O país vive um ciclo contínuo de instabilidade, alimentado por disputas internas no Exército, redes de narcotráfico e instituições frágeis. Em 2022, Embaló afirmou ter escapado de uma tentativa de golpe, declaração que a oposição classificou como estratégia para concentrar poder.
LEIA TAMBÉM: Trump anuncia suspensão permanente da migração de “países do Terceiro Mundo”
Especialistas em política africana, como o geopolítico Sani Ladan, afirmam que o novo golpe não pode ser entendido isoladamente. A região vive uma onda de rupturas militares que enfraquecem os mecanismos de resposta da Comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e fortalecem alianças como a dos Estados do Sahel. Segundo Ladan, a Guiné-Bissau combina três elementos explosivos: um Exército politizado, uma elite conectada a economias paralelas e instituições incapazes de frear abusos de poder.
O golpe interrompeu a apuração eleitoral e impôs censura. Organismos internacionais classificaram a ação como violação constitucional. A CEDEAO suspendeu o país e avalia sanções, o que deve impactar duramente a população, dependente de ajuda externa.
Sem uma transição clara, supervisão civil e reforma profunda do setor de segurança, analistas alertam que o país pode aprofundar sua crise e fortalecer seu histórico perigoso como rota internacional do narcotráfico.








