71% dos profissionais negros já sofreram racismo no trabalho, mostra pesquisa

Programa de Trainee da L’Oréal Brasil oferece 50% de vagas para profissionais negros

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Sete em cada dez profissionais negros afirmam já ter sofrido racismo ou preconceito no ambiente de trabalho. É o que revela uma pesquisa realizada pelo Infojobs em parceria com o Movimento Black Money. Entre os entrevistados, quase metade (49%) relata que as situações ocorreram repetidas vezes, em diferentes momentos de suas trajetórias profissionais. O levantamento foi realizado em outubro de 2025, com mais de 800 trabalhadores de todo o país.

Os dados indicam que o racismo segue estruturando relações de contratação, promoção e reconhecimento dentro das empresas, mesmo entre profissionais altamente qualificados. Dos participantes, 53% estão empregados atualmente e 28% possuem pós-graduação, mas as chances de crescimento continuam desiguais.

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40% dizem que há apenas um ou muito poucos gestores negros, reforçando barreiras estruturais de ascensão. Foto: Pexels

Um dos pontos mais sensíveis aparece ainda nos processos seletivos: 46% dos profissionais negros afirmam ter sentido que suas chances de contratação eram menores em entrevistas presenciais, especialmente quando os demais candidatos não eram negros. “A percepção recorrente de que o candidato negro precisa se provar mais deve ser olhada com atenção”, afirma Patricia Suzuki, CHRO do Redarbor Brasil, grupo controlador do Infojobs. “Construir um ambiente livre de vieses exige ações intencionais e constantes.”

A desigualdade se repete dentro das empresas: 75% dos entrevistados dizem já ter perdido oportunidades de promoção para pessoas não negras menos qualificadas, e 31% relatam que isso ocorreu diversas vezes.

LEIA NOSSA PESQUISA: Percepções sobre o racismo e o caminho para a justiça

O estudo também aponta os efeitos psicológicos do racismo na busca por emprego. Cerca de 38% dos profissionais negros têm medo de colocar sua foto no currículo, temendo rejeição antes mesmo da entrevista. Para Suzuki, o dado expõe a naturalização do preconceito: “O profissional tenta se proteger antes mesmo de ser avaliado.”

A ausência de representatividade também pesa. Para 44% dos participantes, não há nenhum profissional negro em cargos de liderança em suas empresas. Outros 40% dizem que há apenas um ou muito poucos gestores negros, reforçando barreiras estruturais de ascensão.

Após o impulso das políticas de diversidade entre 2020 e 2022, o estudo aponta que muitas organizações desaceleraram suas ações. “Embora o discurso esteja mais presente, sua aplicação prática ainda precisa ser fortalecida”, diz Suzuki. “Promover lideranças negras é um compromisso real com a equidade étnico-racial e com resultados mais consistentes.”

Para a especialista, o relatório evidencia um paradoxo: mesmo com mais qualificação, os profissionais negros seguem tendo menos oportunidades. “O racismo não é um evento isolado, é estrutural. Só será superado com políticas, ações e cultura institucional contínuas”, conclui.

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