Internada desde o dia 19 de março, a liderança não resistiu a covid-19 e falace aos 48 anos, após dedicar toda uma vida em defesa do movimento quilombola, dos povos do Cerrado e do povo negro do país.
Em decorrência de complicações vindas da Covid-19, Fátima Barros faleceu nesta terça-feira (6) no Hospital Regional de Augustinópolis (TO). Quilombola da Comunidade Ilha de São Vicente, localizada em Araguatins, Bico do Papagaio (TO), Fátima era liderança e referência nacional na luta pela terra das comunidades tradicionais. Por isso, sempre estava presente nas discussões e mobilizações, compartilhando saberes e defendendo os direitos dos povos do Cerrado frente a devastação do agronegócio, combatendo a política genocida a tais vidas e lutando contra o racismo.
Filha de Cantidio Barros e Vicência Barros, Maria de Fátima era a nona filha de uma família de dez irmãos. Além disso, era professora, foi a primeira de sua família a ingressar no ensino superior e iria defender sua dissertação de mestrado no próximo mês, porém não resistiu aos vários dias de internação. Vítima da covid-19, a quilombola tocantinense, já havia perdido o irmão mais velho, o senhor Raimundo Batista Barros, no último dia 30/03, para a mesma doença.
“Somos a luta daqueles que atravessaram o mar nos navios, daqueles que retornaram em nós e que depois de nós voltarão em outros guerreiros. Nós somos povo Banto! Nós não morremos! Nós sempre voltaremos! Nós somos guerreiros de Zumbi e Dandara, nós somos a força do Quilombo!”, disse ela em um dos vários Encontros de Povos Tradicionais dos quais fez parte.
Quilombolas e a vacinação contra a covid-19
A morte de Fátima de Barros representa um déficit na garantia do direito à vida quilombola em todo o Brasil. Segundo o último boletim epidemiológico da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas (Conaq), se tem contabilizado 243 óbitos e mais de 5 mil casos confirmados de quilombolas contaminados pela covid-19.
Além da morosidade no cumprimento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 742, que estabelece o cumprimento de medidas emergenciais para proteção das comunidades quilombolas diante da pandemia, como maior acesso a produtos de higiene, alimentação e contabilização das secretarias de quantos quilombolas adentram o sistema de saúde, ainda sofrem com os atrasos da vacinação. A Conaq aponta que o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, do Ministério da Saúde, prevê a imunização de apenas 7% da população quilombola, isto é, 1,133 milhão de pessoas. Sendo que a população quilombola é 14 vezes maior, em torno de 16 milhões.