91% dos consumidores negros das classes ‘A’ e ‘B’ relatam racismo em estabelecimentos de luxo

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Apesar dos avanços em torno da valorização da estética negra, o cenário atual ainda expõe uma dura realidade de exclusão e discriminação nos espaços de moda e identidade. A pesquisa “Racismo no Varejo de Beleza de Luxo revela que 91% dos consumidores negros das classes A e B já sofreram racismo em estabelecimentos de luxo, enquanto 18% relatam ter sido perseguidos, revistados ou tiveram suas bolsas lacradas nesses locais.

Essa leitura evidencia os estigmas raciais ainda presentes na sociedade, nos quais a forma identitária como pessoas negras se vestem e se expressam visualmente é frequentemente associada à periculosidadecriminalidade ou vulgaridade, ao invés de ser reconhecida como uma linguagem cultural legítima. Acontece que, no contraponto a esse movimento, elementos de moda negra, quando apropriados por grifes de luxo e personalidades brancas, passam a ser vistos como elegantes, originais e socialmente valorizados. 

Consumidores negros relatam racismo em marcas de luxo – Foto: Pexels

Deste modo, fica evidente a rejeição às narrativas dos corpos negros e periféricos nos ambientes de moda e marcas de luxo. Atuando na afirmação do poder e posicionamento da imagem preta, a Consultora de Imagem Identitária e Investida da 9ª edição do Shark Tank BrasilCáren Cruz, explica que o preconceito direcionado à estética do jovem negro é fruto de um processo histórico de escravização e da perpetuação social desse legado.

“Após a abolição formal, sem reparação ou inclusão, esses corpos foram empurrados para as margens econômicas e simbólicas. A partir daí, a cor da pele tornou-se um marcador social, determinando lugares, funções e até a forma como cada indivíduo seria lido no espaço público”, comenta.

À frente da Pittaco ConsultoriaCáren destaca que a moda funciona como uma linguagem capaz de promover rupturas. No caso da juventude negra, ela ultrapassa o aspecto visual e se transforma em um gesto político, em que cada peça e cor carrega marcas de ancestralidade, referências periféricas e símbolos culturais que comunicam resistência e afirmação identitária.

Atuando no campo da consultoria de imagem identitária, a CEO tem promovido uma releitura das normas sociais que historicamente estigmatizam corpos negros, transformando-as em instrumentos de valorização e afirmação.

É uma espécie de brincadeira crítica. Se determinados signos como o tênis esportivo, a estampa vibrante ou a cor intensa, foram criminalizados, é possível reinterpretá-los estrategicamente, sem que isso signifique se limitar ou se submeter às normas excludentes. Ao contrário: trata-se de usar esses códigos como ferramenta de reposicionamento, ressignificando a leitura social que recai sobre eles“, ressalta. 

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Contribuindo com a nova perspectiva de identidade, a especialista destaca o letramento racial como passo inicial para enfrentar a criminalização da estética negra. “Não se trata apenas de moda ou de gosto, mas de um sistema histórico que, desde o processo de escravização, constrói o corpo negro como ameaça ou como ausência. Nomear o racismo é fundamental para desnaturalizar essas leituras e criar condições de transformação”, conclui.

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