Os “protestos da fome” que tomaram as ruas e os tumultos mortais por cestas básicas no Natal são a face mais visível de uma crise profunda na Nigéria. O Banco Mundial projetou que 139 milhões de nigerianos viverão na pobreza até o final deste ano, um salto de quase 60% em relação aos 87 milhões de 2023. Este aumento coincide com o início das reformas econômicas recomendadas pela própria instituição, implementadas pelo presidente Bola Tinubu a partir de sua posse, em maio de 2023.
No primeiro dia de seu governo, Tinubu declarou o fim dos subsídios ao combustível, uma promessa de campanha não cumprida. Conforme apurou o porta Peoples Dispatch, essa medida resultou em um aumento de quase 488% no preço da gasolina até outubro de 2024. O custo da energia elétrica também disparou, uma vez que mais de 58% das residências no país dependem de geradores a gasolina ou diesel. Essa falta de acesso à energia, somada a limitações de armazenamento, causa grandes perdas de alimentos. Em seu relatório semestral, o Banco Mundial estimou perdas de 76% para a produção de tomate, 25% para o milho e 34% para o bagre.
A crise foi agravada pela liberalização e unificação da taxa de câmbio em junho de 2023. Na época, um dólar valia 465 nairas, mas a moeda se desvalorizou drasticamente, chegando a quase 1.465 nairas por dólar em novembro de 2024. Nesse período, o Programa Mundial de Alimentos da ONU alertou que nunca houve tantas pessoas sem comida na Nigéria.

Os “protestos da fome” eclodiram em agosto de 2024, sendo reprimidos pelas forças de segurança, que mataram ao menos 24 pessoas e prenderam mais de mil. A situação de desespero ficou evidente durante eventos de caridade no Natal, onde tumultos por cestas de alimentos resultaram na morte de 67 pessoas, incluindo 35 crianças.
Apesar de reconhecer que a pobreza saltou de 38,9% para 61% da população, o Banco Mundial manteve seu apoio às reformas. Em comunicado intitulado “Momento econômico positivo na Nigéria, agora é hora de colher os frutos”, a instituição afirmou que o país fez “progressos substanciais na estabilização macroeconômica”. O relatório defende “disciplina monetária sustentada” e a eliminação de barreiras comerciais, como proibições de importação, para conter a inflação dos alimentos – medida que, segundo a análise do , pode prejudicar os pequenos produtores locais. Como ação paliativa, o Banco sugere “transferências de renda financiadas domesticamente para os extremamente pobres”.
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