Projetos espalhados em todo o Brasil estão realizando campanhas solidárias para aliviar a fome de famílias em situação de vulnerabilidade, situação agravada pela pandemia e as necessárias limitações. Em Belo Horizonte e Região Metropolitana (RMBH) não é diferente. Com a diminuição da renda para muitos mineiros as refeições diárias, muitas vezes, ficam comprometidas.
As metas, geralmente, tem foco na arrecadação de dinheiro para compra de cestas básicas a serem distribuídas com o apoio do voluntariado e instituições parceiras. Além disso, buscam esclarecer informações sobre a situação atual da pandemia de Covid-19.
O cientista político e empreendedor social Rafael Aquino, coordenador de projetos da Associação Move Cultura e diretor da Cufa em Contagem, cidade onde mora na RMBH, é uma dessas pessoas que fortalece a solidariedade, ainda mais em um momento de tantas incertezas.
“O aprendizado é contínuo e os desafios são de diversas naturezas, lidar cotidianamente com as desigualdades não é tarefa fácil. Mas, é gratificante ver que essa rede, de organizações e de pessoas engajadas na superação e na busca de soluções para termos um país melhor, tem se fortalecido cada vez mais”, argumenta Rafael sobre a vivência de quem atua diretamente nas comunidades e áreas carentes.
IMPACTO DAS CAMPANHAS
Segundo levantamento da prefeitura de BH (PBH), a capital mineira tem 4.668 pessoas que sobrevivem nas ruas, sendo 88% do sexo masculino e 12% de mulheres. Porém, o Cadastro Único – CAD do Ministério da Cidadania, que identifica pessoas em extrema pobreza para direcionar políticas públicas de acolhimento e atendimento, mostra que são 9.164 pessoas vivendo nas ruas de BH.
Nesse sentido, as organizações sociais têm cumprido o papel que os governos não têm dado conta de cumprir. “É quase impossível encontrar uma pessoa que não conheça pelo menos um caso de alguém próximo que tenha recebido o recurso do auxílio emergencial de forma indevida. Não podemos naturalizar a má conduta e isso aconteceu com o pagamento do auxílio. E neste sentido, as organizações conseguem atuar na ponta, fazendo com que as doações possam chegar nas mãos de quem realmente precisa”, explica Rafael Aquino.
Quando olhamos para as pessoas em situação de vulnerabilidade uma questão aparece em evidência, isto é, a racial. A população negra é afetada de forma particular, inclusive pela pandemia, devido aos fatores históricos que ainda não foram superados, como a falta de políticas de ações afirmativas que sejam efetivas ao ponto de reduzir as desigualdades sociais.
Desde o início da pandemia no Brasil, por exemplo, uma das principais medidas orientadas para evitar o contágio é o distanciamento social mas, sem a condução única do governo, fica difícil fortalecer o enfrentamento ao vírus. “Não é novidade pra ninguém que é quase impossível manter o distanciamento, considerando a péssima infraestrutura das vilas, favelas e periferias. O Estado, até hoje, não teve competência para garantir o mínimo que é o saneamento básico para esses territórios, de maioria negra. Como de uma hora pra outra vai exigir que o distanciamento social dê certo?”, assim questiona Aquino, deixando a reflexão para todas e todos nós.
Com isso, colaboração é a palavra de ordem no momento, afinal, quem está de fora também pode contribuir para incentivar as iniciativas de doações. “Eu oriento buscar contato com as organizações ou indo direto nas comunidades para saber quais são as principais demandas. Daí, é possível identificar de que maneira pode ajudar, pois cada pessoa tem um perfil e este somatório de forças é que faz toda a diferença”, finaliza.