Apesar dos avanços recentes em diversidade e inclusão, pessoas LGBTQIAPN+ ainda enfrentam barreiras significativas no acesso e permanência no mercado de trabalho brasileiro. É o que revela um novo estudo da HSR Specialist Researchers, maior grupo de pesquisa da América Latina, com mais de 1.000 entrevistados LGBTQIAPN+ com 18 anos ou mais, em todas as regiões do país.
O levantamento mostra que o preconceito pode começar já na porta de entrada: 49% afirmam que sua expressão de gênero influencia diretamente nas decisões de contratação. Expressão de gênero diz respeito à forma como uma pessoa demonstra seu gênero socialmente por meio de roupas, linguagem corporal, tom de voz ou corte de cabelo, por exemplo, e nem sempre corresponde ao sexo atribuído no nascimento ou à identidade de gênero da pessoa.

Esse dado revela que, muitas vezes, não é a competência ou a experiência que pesa numa entrevista, mas sim como a pessoa se apresenta ao mundo — especialmente quando essa apresentação escapa aos padrões esperados. “É uma barreira silenciosa, mas poderosa. Ainda se espera que todos se encaixem em estereótipos normativos de masculinidade ou feminilidade para serem considerados aptos”, analisa Karina Milaré, sócia da HSR e responsável pelo estudo.
Os desafios continuam dentro das organizações. Apenas 24% consideram seu ambiente de trabalho “bastante inclusivo”, enquanto sentimentos de isolamento, medo de punições e dificuldade de se expressar com autenticidade são relatados com frequência, especialmente entre os mais jovens. O isolamento social foi apontado como um dos principais desafios por 30% dos entrevistados.
“Embora tenhamos evoluído nos últimos anos, ainda há um longo caminho pela frente”, destaca Karina. “Nosso objetivo com o estudo é lançar luz sobre esses obstáculos e oferecer caminhos concretos para que as empresas promovam ambientes realmente acolhedores, onde todas as pessoas possam trabalhar com dignidade, independência e segurança”.
A pesquisa também apontou que as áreas de Exatas e Humanas são percebidas como as menos inclusivas por 31% dos participantes, indicando culturas organizacionais mais resistentes à diversidade. Outro ponto importante do estudo é o impacto positivo da inclusão: 63% relatam que o acesso ao mercado formal proporcionou independência financeira, favorecendo sua autonomia e autoestima.
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Além disso, 48% dizem que trabalhar em ambientes inclusivos lhes permitiu expressar sua identidade de forma mais autêntica, o que vai além da expressão de gênero e inclui aspectos como identidade de gênero (a forma como a pessoa se reconhece internamente, como homem, mulher, ambos, nenhum) e orientação sexual (por quem ela sente atração afetiva e/ou sexual).
“A inclusão é mais do que um imperativo ético. É também uma decisão estratégica”, reforça Karina. “Ambientes diversos promovem inovação, atraem talentos, fortalecem a reputação das empresas e geram valor real para os negócios”.