A Associação Brasileira de ONGs (Organizações Não Governamentais -Abong) realizou um levantamento, divulgado na última semana, e mostra que, em 2019, as pessoas negras tiveram um rendimento 27% menor que as pessoas brancas nas ONG’s, em média.
Os números são da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério da Economia, compilados entre os anos de 2015 e 2019, nas 27 capitais brasileiras. Ainda de acordo com o relatório da Abong, a média salarial nas ONG’s é de R$ 1828,50, no entanto, os homens brancos têm maior participação nos salários mais altos, girando em torno dos 20 salários mínimos.
Por outro lado, os negros estão representados nas faixas de menores salários. Entre as pessoas com maior remuneração em ONG’s, no ano de 2019, 44,42% eram homens brancos, 31,45% mulheres brancas, 12,97% homens negros e 10,01% mulheres negras.
Na outra ponta, as pessoas com remuneração de até meio salário mínimo, homens negros correspondem a 38,19%, mulheres negras 37,11%, mulheres brancas 12,81% e homens brancos 11,11%. De acordo com os dados, as pessoas negras estão mais relacionadas às manutenções prediais e nas ocupações de auxiliares, totalizando 41,62%, e pessoas brancas, como pesquisadores, correspondendo a 64,81%.
Já nas funções de diretoria, 59,25% das pessoas eram brancas e 25,07%, negras. Nas gerências, o quadro não se altera muito, com 59,27% de pessoas brancas e 27,6% de pessoas negras.
Mudança de perspectiva
Para o diretor executivo da Abong, Athayde Motta, existe um desafio muito grande dentro das organizações para reverter esse quadro, mas o chamado para iniciar essas mudanças já foi feito. “A gente quer chamar todos os outros setores de organizações da sociedade civil, movimentos sociais e sindicatos a se juntarem conosco para debater esse problema e encontrar soluções. A nossa pauta, efetivamente, é reconhecer que os nossos setores, que atuam primariamente, principalmente, na promoção da igualdade e da inclusão, eles não são impermeáveis ao racismo estrutural da sociedade brasileira. É muito importante a gente reconhecer isso”, destacou.
Motta ainda ressaltou que o racismo estrutural está em todas as áreas de atuação e que as mudanças precisam acontecer para ontem. “É importante reconhecer [o racismo estrutural nas ONGs] e descobrir maneiras de enfrentar isso. Não é fácil, não basta ter pessoas de boa vontade. A gente está falando de algo que é uma disputa de poder instalada na sociedade brasileira desde sempre e que não vai sumir rapidamente”, finalizou.