IPHAN recebe solicitação de tombamento do túmulo de Madame Satã, no Rio

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O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) recebeu uma solicitação de tombamento do túmulo de Madame Satã, figura artística que marcou a cultura LGBTQIAP+ no Brasil. A ação, movida pelo pesquisador Baltazar de Almeida, visa a preservação e lembrança da memória do artista, cujo o túmulo se encontra no Cemitério da Vila do Abraão, em Ilha Grande, Rio de Janeiro.

Em nota ao Notícia Preta, o IPHAN informou que o processo de tombamento foi aberto em 20 de março de 2025. “Atualmente, o processo está em fase de instrução, etapa que compreende a realização de estudos técnicos e demais procedimentos necessários à análise da proposta”, diz a nota.

Segundo informações fornecidas ao jornal Extra, com o tombamento, os responsáveis integrarão o local a roteiros turísticos que visam valorizar a cultura e a história negra e LGBTQIAP+, como o projeto ‘Madame Satã para Sempre’, que estão desenvolvendo na região.

Madame Satã, no Correio da Manhã, em 1972. Fonte Arquivo Nacional

Ao Notícia Preta, Baltazar, que tambem e estudante de turismo e ativista pelos direitos das pessoas LGBTIs, exlica or qual motivo ediu a solicitacao. “Ao longo de nossa pesquisa por novos atrativos e histórias locais de Angra dos Reis, nos esbarramos com um blog que contava a história de Madame Satã, sua importância cultural, sua vivência em Angra dos Reis e a localização de seu túmulo. Com isso, me aprofundei ainda mais sobre a história de João Francisco / Madame Satã“.

Ele continua:Tenho uma memória afetiva pelo local, e saber que ali tínhamos uma figura tão importante da resistência Afro-LGBTI+ brasileira me fez ter ainda mais motivações de fazer o resgate da história de Madame Satã. Busquei maneiras de salvaguardar esse monumento histórico e cultural. Desde então, venho me aprofundando ainda mais sobre a vida, legado e importância de Madame Satã para a cultura preta e queer de Angra dos Reis, do Rio de Janeiro e do Brasil“.

Quem foi Madame Satã?

Nascido no interior do Pernambuco em 1900, João Francisco dos Santos, ou Madame Satã, foi para o Rio de Janeiro ainda criança, onde chegou a viver na rua e cometeu pequenos furtos antes de conseguir seus primeiros empregos no bairro da Lapa, reduto da boemia carioca.

João, que em meio aos seus empregos, virou capoeirista e conhecido malandro na região. Em 1928 entra para a vida artística, interpretando no teatro de revista a Mulata do Balacochê. Em 1938, ganharia o apelido de Madame Satã, pelo qual ficaria conhecido, por conta de uma fantasia que o faria vencedor de um concurso.

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Viveu entre idas e vindas da prisão por diversos crimes, desde roubos a homicídios. Madame Satã, em entrevista ao Jornal “O Pasquim” em 1971 disse que “não tolerava o tratamento que (policiais) davam às pessoas, principalmente quando eram consideradas suspeitas, tornando-se ainda mais violentos, como ainda hoje costumam ser, quando se tratavam de pobres, negras e homossexuais, três identidades que Madame Satã acumulava.” Na mesma época lançou sua autobiografia, aos 71 anos.

Madame Satã morreu em 1976, em decorrência de um cancer pulmonar.

França Leal

França Leal

Nascida em Guarulhos - SP, França é formada em Marketing em 2019 e com pós-graduação em Comunicação e Marketing em 2022. Como colaboradora voluntária, atua também no site de cultura LGBTQIAP+ voltado para mulheres LesBOut desde 2020.

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