Dados inéditos e preliminares da pesquisa Nascer no Brasil 2 da fundação Oswaldo Cruz- Fiocruz, apontam que apenas 54% das maternidades que registraram mortes maternas no Brasil contavam com equipe completa entre 2020 e 2021. As primeiras informações foram apresentadas em um Congresso de Ginecologia e Obstetrícia na última semana.
O estudo que é o maior levantamento sobre parto e nascimento do país, ainda aponta que a ausência de profissionais qualificados é ainda maior em unidades de pequeno porte, um a cada quatro hospitais que realizam até mil partos por mês registraram óbitos e o percentual entre os que chegam na casa dos 3mil partos, a proporção é de chega a 64% dos casos.
“Nós temos um tremendo déficit de profissionais qualificados nas maternidades para atender as mulheres que têm parto nesse país”, reflete a coordenadora da pesquisa, Maria do Carmo Leal, em entrevista para a Agência Brasil.

Outro fator citado nos dados preliminares oficiais, é a falta de UTI materna e neonatal, 40% das maternidades que registraram ao menos um óbito no período analisado, não contam com o serviço que proporcionalmente cresce para 62,7% nos hospitais de maior porte.
A pesquisa coletou informações de 391 hospitais que representam estatisticamente 4 mil unidades que realizam partos no país. Em 2024, o Brasil registrou 1.184 óbitos declarados, ou seja, 52,3 mortes a cada 100 nascidos vivos. A taxa está abaixo do estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 70 a cada 100 mil.
Em um debate realizado durante o Congresso, a professora da Universidade São Paulo (USP), Rossana Pulcinelli, chamou atenção para a notável diferença de raça e cor dentre os casos de óbito. No ano passado, 65% das mulheres que faleceram nessas condições eram negras, enquanto 30% eram brancas. A população feminina brasileira é composta por 55% de mulheres negras e 43% de brancas, dados que convergem com a estatística mortal das mães em parto.
Para Rossana, fatores como desigualdade socioeconômica e falta de acesso à educação contribuem para a disparidade entre os dois grupos.
“A demora na decisão de buscar o cuidado, está relacionada às condições econômicas, sociais e culturais. A distância, condição e o custo do transporte até o hospital e aí ela chega, muitas vezes já não está em condições de cuidado” diz a professora em entrevista divulgada pela Agência Brasil.
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