Negros são maioria entre os analfabetos funcionais; problema atinge 29% da população brasileira

Pesquisas desde 2005 já apontavam os negros historicamente sendo maioria entre os analfabetos, especialmente nas regiões norte e nordeste./ Foto: Freepik

Um novo levantamento do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf), divulgado em parceria com o UNICEF, mostra que 29% dos brasileiros ainda são analfabetos funcionais – mesmo patamar registrado em 2018. A estagnação também revela a falta de avanços concretos em políticas educacionais, especialmente para população negra, que representa 75% dos analfabetos funcionais nas periferias urbanas e áreas rurais.

Entre jovens negros de 15 a 24 anos, um em cada três não consegue interpretar textos básicos. A disparidade racial também é evidente: enquanto 22% dos brancos estão em condição de analfabetismo funcional, esse número sobe para 34% entre os negros.

Além disso, apenas 31% dos pretos e pardos foram considerados alfabetizados consolidados, contra 41% entre os brancos e apenas 19% entre amarelos e indígenas.

Pesquisas desde 2005 já apontavam os negros historicamente sendo maioria entre os analfabetos, especialmente nas regiões norte e nordeste./ Foto: Freepik

A desigualdade também se reflete na idade e no gênero. O percentual de analfabetismo funcional é mais alto entre pessoas de 50 anos ou mais, atingindo 51% desse grupo. Por outro lado, os níveis mais altos de alfabetização funcional se concentram entre os jovens de 15 a 29 anos (84%) e na faixa de 30 a 39 anos (78%). As mulheres também apresentam melhores resultados: 73% delas são consideradas funcionalmente alfabetizadas, frente a 69% dos homens.

Causas históricas e falhas nas políticas públicas

O Brasil herdou um sistema educacional excludente desde o período colonial, quando a escravidão negava o direito à educação aos africanos e seus descendentes, segundo especialistas. Mesmo após a abolição (1888), a falta de acesso à escola para a população negra continuou.

Pesquisas desde 2005 já alertavam para a disparidade racial no analfabetismo funcional. Mas a evolução dos dados revela um cenário de avanços pontuais seguidos por uma preocupante estagnação.

Em 2001, o Brasil apresentava 39% da população considerada analfabeta funcional. Houve uma melhora significativa até 2009, quando esse número caiu para 27%, refletindo esforços iniciais na ampliação do acesso à educação. No entanto, entre 2011 e 2018, a taxa permaneceu praticamente inalterada e, em 2018, voltou a subir, atingindo os atuais 29%, índice que permanece inalterado em 2025 — um sinal claro de retrocesso e paralisia nas políticas públicas voltadas à alfabetização.

Criado em 2001, o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) é uma pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa (e, mais recentemente, com apoio do Itaú Social e do Ipec). Ele mede não apenas se a pessoa sabe ler e escrever, mas se ela compreende e utiliza essas habilidades em situações do cotidiano — leitura de receitas, manuseio de dinheiro, compreensão de textos informativos, etc.

O Inaf classifica a população em cinco níveis de alfabetismo funcional. O primeiro é o nível analfabeto, que inclui pessoas que não leem nem escrevem, ou apenas reconhecem algumas palavras isoladas. Em seguida, o nível rudimentar abrange quem consegue ler e escrever frases simples, mas tem dificuldade para lidar com textos e números.

O nível básico refere-se a indivíduos que compreendem textos curtos e conseguem realizar operações simples do cotidiano. Já o nível intermediário contempla aqueles que leem, interpretam e fazem cálculos com maior autonomia. Por fim, o nível proficiente é atribuído a quem utiliza plenamente a leitura e a escrita em diferentes contextos de forma crítica e eficaz.

Apesar da importância dessas habilidades para o exercício pleno da cidadania, apenas 12% dos brasileiros são considerados alfabetizados proficientes — ou seja, plenamente preparados para lidar com as exigências do mundo letrado. A maioria da população continua abaixo do patamar desejável de letramento funcional, o que compromete diretamente seu desenvolvimento pessoal, profissional e social.

Leia também: A Bahia é o estado brasileiro com o maior número de analfabetos, aponta IBGE

Jaice Balduino

Jaice Balduino

Jaice Balduino é jornalista e especialista em Comunicação Digital, com experiência em redação SEO, assessoria de imprensa e estratégias de conteúdo para setores como tecnologia, educação, beleza, impacto social e diversidade. Mineira e uma das mentoradas selecionada por Rachel Maia em 2021. Acredita no poder da colaboração e da inovação para transformar narrativas e impulsionar negócios com excelência

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