Neste domingo (20) é comemorada a Páscoa no Brasil, e o chocolate é um grande símbolo cultural desse feriado religioso, no país. A troca de ovos, barras, caixas de bombom, amigo oculto de chocolate, também pode ocultar trabalho escravo, infantil, e relações trabalhistas que desrespeitam os Direitos Humanos nos países que são os principais exportadores de cacau no mundo. Ou seja, uma Páscoa nem tão feliz para todos.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostrou que cerca de 8 mil crianças e adolescentes trabalhavam em plantações de cacau no Brasil em 2018 num estudo chamado, “Cadeia produtiva do cacau: Avanços e desafios rumo à produção do trabalho decente”. O mesmo relatório mostra que 83 trabalhadores foram resgatados de trabalho em situação análogas a escravidão um ano antes.
As denúncias de trabalho escravo e infantil nas plantações de cacau na Costa do Marfim e em Gana são recorrentes, embora os dados específicos sejam limitados. Na Costa do Marfim entre 2012 e 2020, cerca de 300 pessoas foram condenadas por tráfico de menores relacionado à produção de cacau, segundo o Comitê Nacional de Vigilância das Ações de Luta contra o Tráfico, Exploração e Trabalho de Menores. O estudo Cocoa Barometer 2018 estimou que mais de 2,1 milhões de crianças estavam envolvidas no trabalho nas plantações de cacau na África Ocidental, incluindo Gana e Costa do Marfim.

Além disso, os países que exportam cacau ganham bem menos do que aqueles que vendem o chocolate pronto. Isso acontece porque o produto finalizado tem maior valor agregado, concentrando mais lucro nos países industrializados e transferindo valor dos países produtores para o centro econômico mundial.
Por exemplo, em 2022, o preço médio anual do cacau em grão foi de US$ 2.368 por tonelada, conforme dados da International Cocoa Organization (ICCO). Já o preço médio global do chocolate pronto no mesmo ano foi de US$ 5.847 por tonelada.
O preço do chocolate tem subido. Em 2024 chegou a ter uma inflação de 11,99% de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O preço do cacau internacional subiu 189%, chegando até marcar 300% devido a fatores como crises climáticas e sanitárias nos principais países produtores, como Costa do Marfim e Gana segundo a Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia).
Entendo a produção e processamento de cacau no Brasil
O Brasil produziu 296 mil toneladas de cacau em 2024 e exportou 50 mil toneladas, além disso o país importou 43 mil toneladas (80,84% da Costa do Marfim e 19,2% de Gana). Cerca de 288 mil toneladas de chocolate são consumidas internamente, segundo a BHB foods.
Ou seja o país tem a capacidade de produzir 87% do cacau consumido em território nacional. O Brasil processa o próprio cacau, mas também importa cacau, principalmente quando a produção interna não é suficiente para atender à demanda da indústria de chocolate, especialmente em anos de baixa produtividade. Outro fator é conseguir fazer a mistura com sabores de outros cultivos exigidos por algumas fábricas.
O Pará e a Bahia são os estados que mais produzem o cacau:
- Pará: Responsável por cerca de 51,8% da produção nacional, com estimativas de produção superiores a 152 mil toneladas em 2024.
- Bahia: Produziu aproximadamente 139 mil toneladas, representando 47% da produção nacional.
O Brasil é o sexto maior produtor de cacau do mundo. Confira a lista dos maiores produtores:
Costa do Marfim produziu 2,18 milhões de toneladas (aproximadamente 44% da produção mundial), Gana 680 mil toneladas, Equador 440 mil toneladas, Camarões 290 mil toneladas, Nigéria 280 mil toneladas, Brasil 273 mil toneladas em 2022, Indonésia180 mil toneladas e Papua Nova Guiné 42 mil toneladas.
O levantamento foi realizado pela equipe de reportagem buscando em sites especializados de balanços de exportação do agro e economia como: Agrosustentar, Globo Rural, Visual Capitalist, Economic News Brasil e Compre Rura.
Rico por natureza, pobre por indústria
Observar os países que mais exportaram cacau também ajuda a mostrar a divisão internacional do trabalho, pois apesar de produzirem o cacau, a matéria prima, quem mais exporta o chocolate já pronto são países desenvolvidos e com maior participação da indústria na sua economia. Esses cinco países juntos foram responsáveis por cerca de 49,1% das exportações globais de chocolate em 2023.
Alemanha exportou US$ 6,26 bilhões de cholate
Seus principais fornecedores de cacau em 2023 de acordo com o The Observatory of Economic Complexity: Alemanha importou da Costa do Marfim US$ 246 milhões, de Gana US$ 45,3 milhões, do Equador US$ 38,1 milhões, da Nigéria US$ 47 milhões e de Países Baixos (Holanda) US$ 301 milhões (reexportação).
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Bélgica exportou US$ 4,09 bilhões de chocolate
Seus principais fornecedores de cacau em 2022 segundo a CBI Ministry of Foreign Affairs: Costa do Marfim com 54% do volume total, Gana com 19%, Nigéria com 6% e Equador com 6%.
Itália exportou US$ 2,74 bilhões de chocolate
Principais fornecedores de cacau e derivados (aqui já entra o chocolate como produto final) para a Itália segundo a Trend Economy: Alemanha com 29% (US$ 496 milhões), Países Baixos com 13,3% (US$ 227 milhões), a França com 11,8% (US$ 201 milhões), a Costa do Marfim com 7,95% (US$ 135 milhões), Gana com 3,28% (US$ 55 milhões) e Equador com 2,75% (US$ 46 milhões).
Polônia exportou US$ 2,5 bilhões de chocolate
Principais fornecedores de cacau em grão em 2022 segundo a CBI Ministry of Foreign Affairs: Costa do Marfim com 7.406 toneladas, Equador 2.529 toneladas, Peru 661 toneladas, São Tomé e Príncipe 521 toneladas e República Dominicana 401 toneladas.
Países Baixos (Holanda) exportou US$ 2,4 bilhões de chocolate
Principais fornecedores de cacau em 2022 para Holanda segundo o The Observatory of Economic Complexity :Costa do Marfim com 42% do volume total, Camarões 20%, Nigéria 12%, Gana 11% e Equador 3%.