Vulnerabilidade social está entre as principais causas do baixo peso de recém-nascidos no DF

recém-nascido

variáveis aparentemente favoráveis, como boa escolaridade, bons resultados de condições sanitárias nas moradias e os bons índices do acompanhamento pré-natal, não foram suficientes para reduzir o índice de baixo peso. Foto: Pexels

Uma pesquisa conduzida por estudantes de Medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB) revelou que fatores como vulnerabilidade social, uso de substâncias psicoativas e interrupção de tratamentos médicos estão entre as principais causas do baixo peso de recém-nascidos no Distrito Federal. Apesar da alta cobertura de pré-natal e das boas condições sanitárias das moradias das gestantes analisadas, 9,35% dos bebês avaliados nasceram com peso abaixo do recomendado, índice superior à média nacional.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 20 milhões de bebês nascem a cada ano com baixo peso, o equivalente a um em cada sete nascimentos no mundo. “O baixo peso ao nascer (BPN) é uma condição crítica e está relacionado ao aumento da mortalidade neonatal, além de riscos a longo prazo, como hipertensão e dificuldades no desenvolvimento”, explica a estudante Ádria Nascimento, responsável pelo estudo.

recém-nascido
variáveis aparentemente favoráveis, como boa escolaridade, boas condições sanitárias nas moradias e acompanhamento pré-natal, não foram suficientes para reduzir o índice de baixo peso. Foto: Pexels

A pesquisa teve caráter qualitativo e analisou uma amostra composta por 81 puérperas e 87 recém-nascidos atendidos em um hospital da rede pública do Distrito Federal. Seis dos bebês evoluíram para óbito. O levantamento foi realizado por meio da análise de prontuários eletrônicos, entrevistas com as mães e informações extraídas dos cartões da gestante. Foram consideradas variáveis como idade, raça/cor, escolaridade, situação conjugal, ocupação, renda, moradia, número de consultas de pré-natal e histórico obstétrico.

Entre os principais fatores associados ao baixo peso dos recém-nascidos está o uso de substâncias como álcool, tabaco e drogas ilícitas, presente em 36,15% dos casos. A maioria das gestantes vivia em áreas periféricas do DF, como a Estrutural e o Sol Nascente, onde a vulnerabilidade social é mais acentuada. Apesar disso, 93,83% das mulheres realizaram acompanhamento pré-natal, sendo que 65,43% compareceram a pelo menos seis consultas, majoritariamente na rede pública.

LEIA TAMBÉM: Estresse crônico e discriminação racial podem aumentar metástase do câncer de mama em mulheres negras, aponta estudo

O estudo também identificou a ocorrência de infecções, principalmente do trato urinário (39,51%), e casos de hipertensão (17,28%) como intercorrências comuns durante a gestação. Um dado alarmante foi a interrupção espontânea do uso de medicamentos por 30,86% das gestantes, mesmo havendo prescrição para 92,59% delas. A descontinuação do tratamento compromete sua eficácia e representa riscos significativos à saúde materna e fetal.

Para a professora Fabiana Xavier Cartaxo Salgado, orientadora da pesquisa e docente do curso de Medicina do CEUB, os dados apontam para a necessidade de uma abordagem mais ampla e integrada. “Variáveis tradicionalmente consideradas positivas, como escolaridade acima de nove anos, moradia com boas condições sanitárias e pré-natal com número adequado de consultas, não foram suficientes para reduzir os casos de baixo peso. Isso indica que é preciso atuar também nos aspectos psicossociais das gestantes”, afirma.

Diante dos resultados, a pesquisa recomenda o fortalecimento das políticas públicas voltadas à saúde materno-infantil, com foco especial em ações educativas, acompanhamento próximo das gestantes em situação de vulnerabilidade e capacitação contínua das equipes de saúde. “A promoção do letramento em saúde e o cuidado multiprofissional em todas as etapas – pré, intra e pós-natal – são fundamentais para oferecer uma assistência mais humanizada e eficaz”, conclui Ádria Nascimento.

Deixe uma resposta

scroll to top