Após pressão de pais de alunos, cidade mineira suspende livro de Ziraldo em escolas

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O livro “O menino marrom”, de Ziraldo, foi suspenso em escolas da cidade de Conselheiro Lafaiete, na Região Central de Minas Gerais. A decisão da Secretaria Municipal de Educação foi anunciada em nota divulgada na última quarta-feira (19), afirmando que a medida foi tomada após pais de alunos considerarem o conteúdo do livro “agressivo”.

Na nota, apesar de reconhecer que a obra aborda “de forma sensível e poética temas como diversidade racial, preconceito e amizade“, a prefeitura da cidade lamentou que tenham havido “interpretações dúbias” sobre a obra, e que optaram pela retirada temporária do livro das escolas por “respeito aos pais e a comunidade escolar“.

‘O menino marrom’, obra de Ziraldo — Foto: Reprodução

A obra de 1986 conta a história de um amigo negro e um branco, que juntos, tentam entender as cores, refletindo sobre o que é branco e o que é preto. Apesar da prefeitura, na nota, o classificar como “um recurso valioso na educação, pois promove discussões importantes sobre respeito às diferenças e igualdade“, alguns pais afirmam que os trechos induzem as crianças “a fazer maldade”.

Os trechos destacados pelos pais são: a parte que o menino marrom deseja que uma senhora fosse atropelada, após ela rejeitar sua ajuda para atravessar a rua; a ideia dos meninos de realizarem um pacto de sangue para selarem a amizade.

Mas em entrevista ao G1, socióloga e coordenadora da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, Zoara Failla, afirma que o conteúdo precisa ser analisado no contexto. “É fundamental entender o contexto de uma obra. Como compreender os dilemas de um personagem se não identificarmos os costumes, valores e crenças que orientam seu comportamento?”. Nas duas situações nenhumas das ações é concretizada pelos personagens.

A medida tomada pela cidade gerou críticas de internautas. “Não dá pra acreditar que em 2024 estamos censurando Ziraldo. Esse país está perdido mesmo“, lamentou uma mulher, que comentou na publicação da prefeitura.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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