Imigrante angolano morre esfaqueado na Zona Leste de SP; Crime expõe xenofobia e racismo no Brasil

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Refugiados de países do continente africano relatam aumento de ameaças e agressões xenofóbicas e racistas

Imigrante buscava mais oportunidades no Brasil . Foto: Reprodução/G1

O frentista angolano, João Manuel, 47 anos, foi assassinado em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Segundo testemunhas, a violência teve motivação xenofóbica e ocorreu após uma discussão sobre o pagamento do auxílio-emergencial federal para imigrantes. A Policia Militar (PM) informa que foi acionada e ao chegar ao local encontrou a três vítimas esfaqueadas, sendo que João Manuel não resistiu aos ferimentos. O caso aconteceu no dia 17 de maio.

As testemunhas informaram que o agressor seria um auxiliar de mecânico, de 49 anos, que fugiu do local antes da chegada da polícia. O nome do acusado não foi divulgado, mas trata-se de um brasileiro. O caso foi registrado no 24º Distrito Policial em Ponte Rasa e segue em investigação.

Segundo os imigrantes que moram na região, os crimes de ódio contra estrangeiros são regulares e alguns foram até obrigados a deixarem suas casas por medo de xenofobia.

“Eu queria defender o meu irmão. Foi racista, ele deixou claro que foi racismo, porque ele estava a falar que ia matar meu irmão, mas dando risada, tipo como se fosse matar um animal”, relata uma das vítimas em entrevista ao G1. “A gente não sabia que aquele cara estava assim bravo. Nosso irmão não fez nada, fez nada. Ele não falou nada para morrer assim”, afirma uma das testemunhas.

O Ministério Público Federal (MPF) recebeu mais de 3,7 mil denúncias de xenofobia nos últimos oito anos. Segundo o Atlas da Violência de 2019, 75,5% das vítimas de homicídio no País em 2017 eram negras.

Crimes de ódio a imigrantes negros aumentam no País  

“Eu saí de lá fugindo de insegurança porque meu marido era alvo de ameaças de morte. Eu percebi que nasceu um ódio no bairro, às pessoas falavam na cara que a gente tem que voltar pro nosso país”, afirma Hortense. Ainda na entrevista ao G1, uma mulher congolesa Hortense morou no bairro em que ocorreu o crime ao angolano e se mudou após vários casos de violência contra imigrantes, incluindo com ela e sua família.

A jovem Ndeye Fatou Ndiaye também foi vítima de ataques racistas e xenofóbicos.  A adolescente recebeu mensagens racistas de colegas de escola. Ao denunciar o crime, o pai de Fatou evidenciou que a situação não foi apenas pela nacionalidade da sua família e sim por um racismo estrutural também.

“Tudo é a questão racial. Porque a pessoa que atira o gatilho, que faz tudo isso, na realidade, faz isso por causa do sistema. O problema não é o CPF [Cadastro de Pessoa Física], mas o próprio sistema. Eu desconheço algum negro brasileiro que não tenha sofrido racismo”, disse o pai da estudante, Mamour Sop Ndiaye em entrevista.

Ambos os casos apontam um dado lamentável em relação aos brasileiros. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), xenofobia são atitudes, preconceitos e comportamentos que rejeitam, excluem e difamam pessoas com base na percepção de que eles são estrangeiros à comunidade, sociedade ou identidade nacional. Segundo a denominação comum, racismo é toda discriminação e preconceito (direta ou indiretamente) contra indivíduos ou grupos por causa de sua etnia ou cor. Com um longo histórico de racismo presente no país, infelizmente os casos de xenofobia, racismo e outros crimes de ódio cresceu continuamente.

Vale ressaltar que a perante a Constituição brasileira e a Lei de Migração, os estrangeiros, sejam imigrantes ou refugiados, possuem os mesmos direitos que os brasileiros, inclusive quanto ao acesso à justiça. Assim, em caso de racismo ou xenofobia é importante que as vitimas procurem uma delegacia para fazer o registro da ocorrência.

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